“Tá vendo aquela marca ali? Eu que fiz.” – Orgulho por um trabalho bem feito é a melhor sensação que um designer de marcas pode ter. Melhor ainda quando você sabe que seu cliente está muito satisfeito com o projeto que recebeu.
Aprovar uma marca não é fácil, mas também não é tão difícil quanto se promove por aí. A grande questão é que não basta ser um bom designer, pois qualidade em design está cada vez mais comum. Acredito que o mais importante esteja em como seu cliente enxerga seu design. Quanto ele acha que vale investir no seu design? Como convencê-lo de que o valor que você cobra é justo e trará benefícios para o seu negócio?
Não é possível garantir sucesso, mas é possível ganhar a confiança do seu cliente. Essa confiança é multiplicada quando ele recebe justamente o que esperava de você, ou melhor ainda, quando é surpreendido. Conseguir essa confiança envolve uma série de questões, e as principais têm relação com seu atendimento. Um bom atendimento sugere um bom profissionalismo.
As dicas que darei envolvem as etapas que antecedem a apresentação do seu projeto. Estou assumindo que você é um bom designer, ou seja, tem estudo e conhecimento suficientes para defender seu projeto de forma coerente. Vamos às dicas:
1 – Monte um bom briefing
Ter as respostas certas garante boas chances de sucesso. Faça todas as perguntas necessárias para conseguir iniciar o projeto sem dúvidas. Ao apresentar o projeto, faça referências às respostas do cliente. Isso ajudará a reforçar a importância daquelas perguntas “chatas” que você fez.
Meu modelo de briefing: https://waltermattos.com/contato/briefing-completo-marca/
2 – Calma, sem pressa
Uma marca bonita pode ser feita em 10 minutos, mas um bom projeto de marca leva tempo. Somente você sabe o tempo que precisa. Deixe seu prazo claro para o seu cliente e vá com calma.
3 – Apresente um projeto de identidade, não uma “marquinha”
Uma marca sozinha não me diz muita coisa. Ela pode ser bonita, feia, comum ou indiferente. O diferencial está em como você vai fixá-la na mente das pessoas – e na do seu cliente, claro. Isso só é possível se você demonstrar como a marca se comporta em diferentes momentos. Mesmo que seu cliente peça apenas o design da marca, demonstre essa marca em um cartão, ou em um timbrado, por exemplo. Garanto que isso vai no mínimo abrir a mente do seu cliente. Talvez até garanta uma aprovação, pois ele pode falar algo como: “Quando olhei a marca até achei bonita, mas você me ganhou quando vi o cartão!" Acredite, isso acontece.
4 – Não apresente três ideias boas, mas sim uma ótima
Sei que estou indo contra um padrão de mercado, mas tem dado certo pra mim por enquanto. Acho que quando apresentamos mais de uma ideia não estamos buscando a melhor solução possível para um determinado problema. A “melhor solução” está no singular, portanto na teoria só pode ser “uma”. Mas não entenda mal, é óbvio que existem várias soluções possíveis para o mesmo problema. Apresente aquela ideia que você se apaixonou e parta pro abraço.
Terminando o raciocínio, quando damos três opções corremos um risco. O cliente pode misturar as três ideias e criar um Frankenstein: “Tá aprovado! Adorei esse logotipo, mas prefiro o outro símbolo. Aproveita e joga as cores dessa terceira solução que vai ficar ótimo!” Frankenstein wins.
5 – Evite "modismos"
Tudo bem que “Long Shadow” está na moda, mas você não precisa criar todas as suas marcas com uma sombra atrás. Caso seu cliente faça questão de possuir alguma característica em alta no momento, crie também uma versão simplificada, sem essas características. Tenha em mente que a marca que você criar deve durar o mesmo tempo que a empresa ou o negócio do seu cliente.
6 – Simplifique
Evite excessos de cores, fontes, formas, enfim. Tudo que dificultar a memorização e compreensão da sua marca deve ser evitado, a não ser que essa seja a intenção. Preveja a aplicabilidade da sua marca em materiais diferentes (como bordado, por exemplo), tamanhos mínimos, preto e branco e uma cor. Mesmo que seu cliente não vá usá-las nestes formatos, o fato de você prever isso já garante um design mais simples.
7 – Crie um roteiro de apresentação
É importante seu cliente visualizar o quanto você se dedicou ao projeto - o quanto você pesquisou, o quanto refletiu, e o que concluiu antes de definir o design. Isso aumenta muito as chances do cliente sentir que fez um bom investimento em você.
O roteiro ajuda a organizar as ideias inclusive no momento de criação. Não existe uma regra ou uma ordem exata, o importante é você ter um padrão.
Normalmente sigo a seguinte ordem, que pode variar de acordo com o projeto:
- Desafio do projeto
- Principais diretrizes (com dados coletados no briefing)
- Mapa conceitual (com dados coletados no briefing)
- Rascunhos (caso sinta que pode valorizar o projeto)
- Símbolo: conceito, construção e solução
- Logotipo: conceito, construção e solução
- Cores institucionais (explicar conceito, caso exista)
- Assinaturas: vertical, horizontal, traço, PB, negativo, positivo, etc.
- Construção das assinaturas (caso sinta que pode valorizar o projeto)
- Tipografia institucional
- Testes de identidade*
*Por último faço testes aplicando a marca em diversas superfícies, como cartão, timbrado, CD, envelopes, etc. Tente montar imagens que valorizem o projeto. Evite, por exemplo, apresentar a imagem original do cartão (vetor) - cartão branco com contorno preto sobre fundo branco. Isso acaba depreciando a qualidade do trabalho, por mais que o design da sua marca seja lindo. Tente explorar diferentes perspectivas, zooms, etc.8 – Peça feedback aos amigos
Normalmente envio o design final para um máximo de 5 amigos de confiança e bom gosto (não necessariamente designers), a não ser que o cliente peça sigilo. Buscar opiniões diferentes ajuda muito, pois podem te fazer enxergar problemas onde você não via e até mesmo valores que você não pensou, mas estão ali.
Normalmente envio primeiro a marca sem defesa de conceito, pois quero a opinião mais crua possível. Por último envio a apresentação final para verificar erros de ortografia, incoerências, etc.
9 – Deixe o melhor por último
Siga uma ordem coerente, prendendo a atenção do cliente do início ao fim na sua apresentação. Tente surpreender no meio do caminho mas deixe a última tela ser aquela que vai deixá-lo de queixo caído. Provavelmente ele irá fixar sua apresentação em 3 passagens.
1 – Explicação do conceito
2 – Marca
3 - A última tela = queixo caído
10 – Faça um bom trabalho e seja indicado
Quando você chega em um cliente através de indicação de outro cliente (e não do seu pai ou do seu tio) a aprovação é quase garantida, pois ele já imagina o que pode esperar de você. Já tive casos onde não precisei mostrar meu portfólio para dar o primeiro passo, que é aprovar o orçamento. Com indicação de um cliente antigo, o novo já estará pré-disposto a gostar de você – veja bem, “de você”. Seu trabalho é consequência do que você é como pessoa.
Importante: Nunca peça para o seu cliente indicá-lo. Faça o seu melhor e isso acontecerá naturalmente.
Para encerrar
Caso o cliente não aprove de primeira, não fique chateado. Use o “não” para melhorar ainda mais seu projeto, pois acredite, se o seu cliente não aprovou é porque ainda faltava algo. Seu cliente não entende de design, mas entende seu próprio negócio.
Na pior das hipóteses você apresenta um segundo projeto. É sempre bom ter uma carta na manga, mas faça isso somente quando tiver todas as questões resolvidas - o que ele não gostou, por que não gostou e o que acha que pode melhorar.
Espero que estas dicas te ajudem no mínimo a definir uma estratégia de apresentação dos seus projetos. Boa sorte e que de hoje em diante todas as suas marcas sejam aprovadas de primeira. :)
Essas são minhas 10 dicas. E você, tem outras? Deixa aí nos comentários!
Um abraço.
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Uma coisa que observo também é que alguns clientes já vem com uma ideia na cabeça, e só com muito papo para tentar fazer ele mudar de opinião.
Bacana essa iniciativa de dividir conhecimento e formas de trabalho Walter. Trocar “figurinhas” é fundamental. ;)
Fiquei em dúvida na dica 9. Deixe o melhor por último. Como seria a última tela?
Abraços e parabéns novamente!
Como montar essas linhas?
Obrigado
Boa sorte nos estudos e obrigado novamente.
Um abraço.
No item 9, Walter, o que você chama de “queixo caído”? Viria, pela ordem proposta, nas aplicações… seria, então, uma fachada? Algo grandioso? Ou até um cartão de visitas pode fazer cair o queixo? Abraço e obrigado pelo post!
No meio de tanta gente grande e madura aparece você.
Alexandre Wollner, Aloísio Magalhães e muitos outros, você vem mostrando a sua marca.
Abraço e boa sorte e Saúde!
Parabéns cara você é um exemplo a ser seguido. Grande abraço!
então #força#foco#fee
e muita determinação eu falo isso… e tem que gostar amar o que faz e assim a evolução vem com o tempo…grato!ate mas
Sobre as 3 opções de marca, concordo muito. Aqui no estúdio nós não trabalhamos assim de forma alguma. Isso só desvaloriza seu trabalho e transforma seu estúdio/agência em uma loja de produtos, não uma prestadora de serviços.
Grande abraço.
Sigo seu site há um tempinho, muito conteúdo bacana que tem me inspirado muito. Antes, só tinha visto tanta coisa boa em inglês. Fico feliz por um profissional compartilhar tanta experiência boa como você tem feito.
Vou me “intrometer” um pouco no comentário da Dayane, apenas uma sugestão. É uma realidade isso que acontece, das pessoas tagarelarem sobre um projeto que segue os princípios de um design bem feito, e sim, isso é bem frustante. Mas você tem que levar em consideração no que você cresceu com o tanto de pesquisa e trabalho que você teve. Deve ter mudado sua visão para mais ampla. Não se joga fora sabedoria. Já que o cliente está pedindo “sujeira visual” no trabalho, o que se tem a ser feito? Não muita coisa.
Também acho que você tem que considerar o projeto um pouquinho mais como produto/venda (claro que sem perder sua essência), se está precisando aumentar a carteira, o negócio é se submeter, infelizmente; já se está em um patamar de “escolher” o cliente, talvez indicar pra quem está começando é uma saída também. Outra coisa a ser analisada é: quantas portas esse cliente pode te abrir? Como foi falado neste post, ser indicado por outro cliente já dá bastante critério para o próximo. E assim você vai crescer.
Espero ter ajudado com minha “intromissão”.
Um abraço.
Ouvi você pelo podcast do Aparelho Elétrico e vim conferir seu site. Estou explorando ainda todo o conteúdo que você posta e quero só elogiar a sua dedicação. Também me identifico muito com a sua postura em relação ao trabalho e com o que você demonstra ser o correto em relação aos clientes. Conheço as mesmas dificuldades e compartilho de soluções assim também na minha rotina de trabalho, especialmente na criação de identidades visuais. Estou reforçando meus conceitos e também aprendendo coisas novas com você. Parabéns pelo seu trabalho!
Aproveito para parabenizá-lo também pelo seu trabalho. Visitei seu site e, inclusive, indiquei ao Henrique.
Muito bom mesmo!
Grande abraço e obrigado novamente.
O que fazer se o cliente de fato não gostar das propostas que você apresenta? Isso já aconteceu com você? Estou prestes a fazer a minha primeira proposta de marca, e penso em como lidar caso a pessoa não goste, eu refaça e continue não aprovando. Quero já ficar precavida e saber lidar numa situação como essa.
É raro ter algum tipo de problema com as apresentações pois invisto muito na fase do briefing e reuniões com o cliente. Pode ser interessante você dar uma olhada no meu artigo sobre contrato também.
https://waltermattos.com/artigos/template-de-proposta-para-projeto-de-design/
As cláusulas que descrevo aí devem tirar algumas das suas dúvidas.
Qualquer coisa só voltar aqui.
Abraço.
Vou seguir atenta todo o seu trabalho e dicas!
Obrigado
Grato,
Abraços!!!
Abraço.
Qual software você usa para projetar as artes em superfícies diferentes (como por exemplo cartão de visita, capa de agenda, etc)?
Utilizo Illustrator, Indesign e Photoshop.
Um abraço.