Cartão inovador

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julho 31, 2014
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4 min read

art_cartao_inovador_Header

Você já deve ter ouvido algo parecido vindo do seu cliente:

“Quero um cartão mega inovador! Transparente, de plástico, com bordas arredondados e várias dobras! É possível?”

A resposta para esta pergunta é “sim”, mas seria sensato parar por aí? Talvez não. Veja bem, eu disse “talvez”, pois você pode ser um designer que prefere não se envolver nestas questões e apenas produzir o que foi solicitado. Se for este o caso, a vantagem é que você poderá tirar uma graninha extra para produzir um cartão mais “complexo”, digamos.

Mas se por acaso você considerar que este não é o melhor caminho para o seu cliente, vale a pena deixar a sinceridade de lado por uns trocados?

Criar um cartão de visitas já é suficientemente difícil (para quem leva o design a sério) seguindo os padrões existentes. Pois é, existem padrões, e estes padrões existem por várias razões. Entre elas está garantir o não desperdício de papel.

Não vou entrar em detalhes muito técnicos e não vou dar valores realistas, mas imagine que o padrão de uma determinada gráfica é produzir cartões no tamanho 9 cm x 5 cm. A gráfica estipulou esse tamanho porque a folha que ela usa para imprimir estes cartões possui 18 cm x 10 cm. Ou seja, cabem 4 cartões nessa folha. Veja a imagem abaixo.

art_cartao_inovador_covers_5cm

Se você decidir criar um cartão no tamanho 9 cm x 7 cm significa que está usando apenas 2 cm a mais de papel, certo? Porém, isso significa também que agora você só consegue imprimir 2 cartões por folha, e a gráfica terá que usar mais uma folha para imprimir os outros 2 cartões. O resto do papel que a gráfica não usou vai virar lixo. Confira a imagem.

art_cartao_inovador_covers_7cm

Agora imagine isso em um cenário com 1.000 cartões. Enfim, a gráfica está jogando fora uma quantidade de papel que ela poderia usar, e seu cliente está pagando mais caro por este desperdício.

Conclusão: antes de criar um layout impresso, consulte a gráfica e veja se ela possui um tamanho padrão para o produto que você está criando.

Continuando, agora pense nas outras solicitações do cliente: plástico, dobras, bordas arredondadas. Tudo isso envolve processos que estão fora dos padrões, encarecem o projeto e desperdiçam material. Além do mais, você não precisa ser expert para imaginar que na maioria dos casos, este cartão terá três caminhos possíveis:

  1. Será jogado no lixo 10 minutos depois de ser entregue.
  2. Irá para uma pasta cheia de outros cartões que só é aberta quando recebe um cartão novo.
  3. Irá para o lixo junto com a pasta quando esta pasta não tiver mais espaço.

Existem várias possibilidades para você criar um cartão com o mínimo de desperdício, e que emita menos poluentes tanto na produção como no descarte.

Se você quiser ser um designer mais atento a estas questões, sugiro que leia o livro Design gráfico sustentável – Brian Dougherty.

Mas e se eu considerar, por uma questão de briefing, que é melhor o cliente não ter um cartão - devo falar isso para ele?

Claro que sim. Mesmo que ele decida fazer o cartão, o mínimo que você pode ganhar são alguns minutos de um bom papo (e a confiança do cliente).

O cartão, na minha concepção, serve para conectar pessoas. E hoje vivemos em um mundo onde conexão é uma palavra do cotidiano de qualquer um, e ninguém precisa sair distribuindo cartões para isso. É bem possível que você encontre alguns casos onde o cartão se torna irrelevante. E por mais que o design seja lindo, poderá não ter função.

Eu mesmo imprimi 250 cartões em 2012 e devo ter distribuído no máximo 20 cartões até hoje (2014) – e metade foi para conhecidos que não precisavam do meu cartão.

Recentemente dei uma palestra na universidade Unigranrio e não distribuí um cartão sequer. Nem por isso os alunos que assistiram deixaram de entrar em contato comigo.

Será que eu preciso de um cartão? Talvez, para eventos onde eu não tenha tempo de falar “Anota meu telefone e e-mail aí no seu smartphone”.

Acho que um cartão inovador pode ser aquele que você não vê, não porque é transparente, mas porque não foi impresso.

Este artigo foi inspirado em uma situação parecida, mas não igual, com um cliente que hoje se tornou amigo. A ideia de desenvolver este artigo foi dele, então fica aqui meu agradecimento.

E para você, o que é um cartão inovador?

Um abraço e até o próximo post.

CRÉDITO
Imagem da capa por Shutterstock.

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Tagged: Cartão · Gráfica · Impresso · Inovador
Comments
Iure Figueira
Um professor meu costuma falar que “se o cliente já vem com a solução, então não tem porque precisar do designer…” E é muito verdade isso.
Está naquele jogo de cintura nessa conversa de: Cliente – “Eu preciso de um cartão de visitas.” Designer – “Por que você precisa de um cartão de visitas?” Cliente – “Ah, porque eu gostaria de divulgar mais a empresa…” Designer – “Então você não precisa de um cartão de visitas, você precisa divulgar a sua empresa.” Quando se tem isso, a conversa é outra… :)
E Walter, fui um pouquinho além, cheguei a fazer 2.000 cartões. Se eu distribuir 10 foi muito. Mas esses cartões não serão descartados… A ideia é transformá-los em alguma coisa. Alguma outra coisa… Vamos ver o que sai!
Pois é, Iure, eu já pensei muito sobre o que fazer com estes cartões.
Antes destes, eu tinha impresso 500 cartões em um negócio antigo. Fiquei com uma sobra de mais de 400 e não consegui arrumar utilidade para eles, até porque eles eram todos pretos e não tinha com escrever por cima (o que já ajudaria).
Antes de imprimir estes 250 cartões cheguei a pensar em anotar meu telefone em um pedaço de papel. O smartphone ainda não estava com essa força toda na função de anotar telefone (pelo menos não para mim).
Enfim, vivendo, aprendendo e mudando! Quando descobrir uma função para os seus cartões compartilha aqui com a gente.
Abraço!
Iure Figueira
A ideia é essa! Vamos ver o que a gente consegue! E fica a ideia aí no ar para encontrar outras soluções para outros problemas. Isso dá uma conversa legal, hein?
Henrique Rossatto
Tenho um amigo meu que quer levar uma palestra sua na faculdade onde nos formamos (UniFOA) e se você for com certeza gostaria de um cartão seu. É meio que um souvenir para mim das palestras que assisto =P. Grande texto e é algo a se pensar para futuros clientes. Sempre que alguém pergunta, “Você faz folder?” Eu pergunto “É de um folder que você precisa?” E isso serve também para o cartão de visita.
Bem colocado, Henrique. Eu confesso que fui animado para “enfim” distribuir meu cartão na palestra. Acontece que eu esqueci mesmo. Mas quando cheguei em casa e vi que um monte de gente tinha me adicionado no Facebook eu pensei “Ué, mas eu nem mencionei meu Facebook por lá!”. A conclusão foi essa que descrevi.
Sobre a palestra, seria uma honra! Em setembro vai rolar uma palestra minha na Confred também. Se inscreve por lá para assistir gratuitamente.
Abração e obrigado pelo comentário!
Umberto
Olá Walter. Curto seus posts e seu conteúdo é muito rico. A minha situação em relação aos cartões é diferente. Sou sincero quando vejo que o cliente não tem necessidade, mas eu imprimo cartões pessoais em diversos formatos, texturas, cortes e dobras para justamente apresentá-lo como opções gráficas “materiais”. Mas sua dica acima está correta também =)
Valeu, Umberto. Obrigado por acompanhar o Blog.
O mercado gráfico tem seu propósito de existir, claro. É algo que provavelmente não vai extinguir e vai sempre se renovar.
Boa sorte com seus produtos e obrigado pelo comentário. Um abraço.
Silvestre Rodrigues
Belo post, estava pensando em imprimir meu cartão para divulga meu estúdio, mais lendo o post acho que não tem sentido agora, acho que uma divulgação pelas redes sociais e e-mail, com uma apresentação bacana, seria mais valido, econômico e sustentável.
A referência de livro tbm é muito boa, tenho esse livro e é bem bacana.
Abraços.
Fala Silvestre, beleza? Sempre fazendo as honras.
A divulgação do meu Blog, por exemplo, está sendo feita pelas redes sociais. Não tenho nenhum cartão com link para o meu Blog especificamente, ou sequer mencionando que escrevo artigos. Talvez um dia eu imprima um bocado, mas por enquanto não precisei.
O livro é realmente muito bom! Foi uma sensação de “iluminação “quando li. (rs)
Valeu pelo comentário.
Abraço!
Gostaria de deixar os parabéns Walter, mesmo sendo um assunto que as agências já (pelo menos a minha) conversam sobre a importância ou não do cartão de visitas é muito legal poder ter o texto até como uma referência para enviar para que os clientes leiam e reafirmem sua decisão.
Tivemos uma situação parecida essa semana aqui na agência e o cliente optou pela impressão.
Também tivemos um case, de um cartão que fizemos uma Cadeira Estilizada ‘visualizar https://www.facebook.com/AgenciaMoov?fref=ts‘ e o mesmo preferiu uma versão padrão pela diferença de valor.
Bom, mais uma vez parabéns…
Muito obrigado, Gelson. O link do cartão levou para seu perfil, mas bem bacana a pegada da sua agência. Deu pra ter uma ideia do que vocês fazem.
Obrigado pelo comentário. Um abraço.
Thiago Ferreira
Walter, seus posts todos são incríveis! Conheci a pouco tempo vendo alguns vídeos falando sobre grid e acabei chegando em um vídeo seu.
Excelentes tutoriais e dicas aqui no blog. Parabéns!
É uma honra, Thiago. Muito obrigado pelo depoimento. :)
Grande abraço!
Excelente post,Walter! Antes mesmo de querer algo inovador, pense se vc precisa da “algo”. No caso dos cartões, o que mais vejo por aí é gasto desnecessário de verba e materiais. Isso se aplica a tudo, não só para cartões. Muita gente quer site sem precisar, querem ecommerce quando poderiam usar o Mercado Livre (ou outras plataformas de venda) e por aí vai… Cabe nós, designers, o dever de ajudar a orientar nosso cliente para o caminho de menos custo com maior resultado.
Ótimo comentário, Leo. Espero que as pessoas leiam os comentários também, pois tem muita gente dando um suporte bacana neste artigo.
Um abraço!
Bacana seu post, jovem. Engraçado você questionar a necessidade de um cartão. Pra mim a resposta é obviamente positiva, mas realmente…algumas pessoas podem achar dispensável. Reflexões pertinentes e até certo pontos surpreendentes. Abraços e parabéns por um ótimo trabalho. Espero que resulte em bons frutos profissionais.
Muito obrigado, Chicko. Na verdade, como já debati com outro leitor, essa reflexão é algo constante. Não imagino um mundo sem cartão ainda, pois ele continua sendo algo “esperado”.
Se uma pessoa te pedir um cartão pode “pegar mal” não ter um. Mas o engraçado é que o meu não é solicitado desde que imprimi.
Mas é uma reflexão muito boa a se fazer. Também estão falando muito de um cartão QR code atualmente, que preciso investigar ainda do que se trata.
Obrigado pelo feedback e pelo apoio, Chicko. Grande abraço.
Oi, Walter!
Achei interessante seu artigo, quando vi a imagem associada ao post eu pensei que o “design inovador” seria o cartão transparente, haha! Bela surpresa.
Apesar de ter entendido que você não esta dizendo pra ABOLIR o cartão, acho que vale a pena reforçar que, muitas vezes, o cartão é capaz de passar determinadas mensagens de forma muito mais impactante que um simples anotar de telefone. Especialmente no mercado de luxo, um cartão diferenciado faz toda a diferença. Pela escolha demateriais, pela tipografia ou pela técnica de impressão podemos perceber o poder daquela pessoa ou organização. E, muitas vezes, isso vai fazer diferença.
=)
Achei legal o seu jeito de escrever, vou tentar acompanhar o site mais de perto. Abraços!
Olá Isis, muito obrigado pelo comentário.
A ideia do cartão na capa foi intencional. Sei que corri o risco de perder leitores, mas achei que traduzia bem minha ideia. (rs)
Realmente, não estou abolindo a ideia do cartão e entendo que em determinados mercados ainda é algo essencial. Inclusive muitas vezes é considerado “feio” não ter um. Mas como falei, no meu caso acabou se tornando algo de pouquíssima utilidade. Então acho válido refletir um pouco antes de decidir imprimir um cartão.
Obrigado por acompanhar o Blog. Espero que continue gostando. Um abraço.
PS: Seu portfólio é muito bom. Parabéns!
Patrick hernandes
Até que faz sentido, mas cada caso é um caso.
Exatamente, Patrick. Cada caso é um caso. Tem que agir de acordo com os reais objetivos de cada um.
Abração.
Conrado Lisboa
A parte mais legal foi: “Mas e se eu considerar, por uma questão de briefing, que é melhor o cliente não ter um cartão – devo falar isso para ele? Claro que sim.”
Vi um amigo meu produzindo um web site pra padaria simples do bairro. Cobrou uma grana legal. Cara, ninguém entra em site de padaria. Principalmente uma simples de bairro. Era melhor ter feito o cartão de visita. Ou não (acho que nem isso) sr!
Ótimo post Walter, só falta agora alguém pedir cartão de vidro pra mim, kkk

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