Por que contratar um designer para um projeto de design?

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setembro 18, 2014
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9 min read

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Caso você seja um designer deve ter achado o título deste artigo um tanto quanto redundante, ou até mesmo óbvio, não é? Será que para o cliente essa resposta é tão óbvia assim?

Há pouco tempo publiquei um artigo onde mencionei profissionais que se auto intitulam designers quando na verdade não são, e como esta onda de autoconfiança entre eles pode ter sido gerada pela forma como o próprio mercado funciona. Estes profissionais são conhecidos como “micreiros”, ou “sobrinhos”. Veja aqui o artigo “Você está trabalhando de graça?”.

Após enviar este artigo pela minha Newsletter recebi, pela primeira vez, várias respostas por e-mail. O mais curioso é que muitas respostas vieram em forma de agradecimento por estes mesmos profissionais que levam a vida como "micreiros". Normalmente este grupo é composto por pessoas muito jovens que ainda não cursam uma faculdade ou não têm condições de ingressar em uma. Em alguns casos é possível notar que ainda não entendem a importância de um estudo mais amplo sobre design.

Cheguei a receber e-mails de jovens de 14 e 16 anos que já atuam como “designers” agradecendo pelo artigo. De certa forma eles entenderam, ou pelo menos tiveram uma ideia do quão importante é se dedicar a um estudo aprofundado sobre design, e que não basta conhecer as ferramentas de um profissional para se tornar este profissional.

Se para um jovem que está em contato diário com as ferramentas utilizadas pelo designer é difícil entender o que é design, imagine como é difícil para um cliente entender que profissional ele precisa contratar para realizar seu projeto de design. Entendeu? Não? Nem o cliente.

Se tem uma coisa que eu sempre digo é que precisamos falar a língua do cliente para que ele entenda a importância do nosso trabalho. O problema é que muitas vezes tentamos explicá-lo da forma mais complexa, elaborada e requintada possível. O cliente não está nem aí para a semiótica, para a Bauhaus ou para a psicologia das cores.

O que o cliente quer saber é – “Por que contratar você se o sobrinho dele sabe mexer no Corel?”

A resposta mais simples para esta pergunta é: “Porque você é o especialista.”

Você não precisa explicar muito, contanto que consiga demonstrar que você é o especialista que ele procura. Esta demonstração não precisa vir através de belas palavras ou de belos trabalhos, especificamente. Isso porque o “belo” é relativo. O que é bonito para mim, pode não ser bonito para você. Então não posso contar somente com a beleza do meu portfólio para conquistar meu cliente.

É muito provável que o cliente receba um layout de um “sobrinho” e ache lindo! Se este cliente pagou R$50 neste projeto, ele está mais que no lucro. Ele saiu satisfeito e o “sobrinho” também. Ninguém perde.

Este cliente só vai perder se a intenção dele for desenvolver um projeto duradouro e único. Aí está a vantagem de contratar um designer profissional, especialista, pois somente ele sabe como construir um projeto duradouro e único. E somente a experiência faz desta pessoa um profissional apto para isso. Você não precisa concorrer com um jovem de 16 anos que está no auge da sua empolgação com os seus aprendizados. Deixa ele. Quem sabe um dia ele acaba se tornando um designer tão experiente quanto você. Vai dizer que com 16 anos você não pegava o carro do seu pai e já se achava “o motorista”?

Então, na hora de convencer um cliente sobre a importância de te contratar, deixe a sua experiência falar por você. Por isso, caso você seja um estudante ainda com pouca experiência, é importante que entenda suas limitações e não tenha pretensões de cobrar valores que somente profissionais mais experientes cobram. Você tem seu espaço também, fique tranquilo.

Depois que você desenvolver o projeto pode ter certeza que a opinião do cliente não terá sido apenas a de ter feito um projeto “bonito”.

Traçando um paralelo e apenas para citar como exemplo, me permita abrir um pouco da minha vida pessoal. Estou fazendo mudança e preciso pintar meu apartamento. Inicialmente cheguei a pensar em pintar por minha conta pois sempre imaginei que não seria algo tão difícil. Mas enfim, como não tenho experiência nenhuma neste assunto decidi fazer um orçamento com um especialista apenas por desencargo de consciência. Depois de alguns minutos de conversa foi fácil desistir de pintar por minha conta.

Isso porque depois do “briefing” eu percebi que eu não fazia ideia de quanto de tinta eu precisaria comprar para cada cômodo, de como reformar rejuntes, de que eu precisaria de fita crepe, 1kg de gesso, etc. Eu realmente precisava de um especialista e só percebi isso depois de conversar com um. A segurança que ele me passou nesse momento foi crucial para eu mudar de ideia, pois ele não se limitou apenas a me dizer quais materiais eu precisava. Ele me explicou a função dos itens que eu precisava comprar, me deu prazos, me orientou sobre a ordem de cada etapa, etc.

O resultado final desta pintura será excepcional? Não sei, até porque isso envolve outros fatores, como a escolha da cor certa, dos móveis, enfim. Isso vai depender do projeto de arquitetura e decoração, que é papel de outro especialista.

Comparando com o cliente que não sabe diferenciar um designer de um “micreiro”, eu não saberia comparar o trabalho dele com o de um pintor menos experiente. Eu nunca diria, por exemplo: “Olha, os dois beges estão lindos, mas esta parede aqui é uma obra de arte. Quem foi o artista que pintou isso?”

Ou seja, não estou comprando a beleza do trabalho dele. Estou comprando a experiência. E a fase da conversa foi essencial, pois foi aí que ele me convenceu.

Quem forma o profissional é o professor, os livros, o tempo, as tentativas, os erros e acertos. Esse somatório de coisas traz esse algo chamado “experiência”, e a experiência forma o especialista. Isso vale para o designer ou qualquer outro profissional.

Alguns exemplos práticos

Decidi finalizar este artigo com alguns exemplos que aconteceram comigo. Estes exemplos motivaram alguns dos artigos que já escrevi, inclusive este aqui.

Exemplo 1: cliente não sabe que contratou um “micreiro”

Certa vez desenvolvi um projeto de identidade de marca para um cliente e encerrei meu trabalho por aí. Ele deu continuidade com outro profissional para executar os materiais de divulgação, como folders, flyers, etc. O “designer” que deu continuidade tinha todas as diretrizes para desenvolver os materiais seguindo a identidade criada, mas por acaso ele não era um designer de fato, e sim um "micreiro". Era apenas uma pessoa que conhecia as ferramentas.

O cliente, sem saber fazer essa diferenciação, não sabia explicar por que ele não estava gostando dos materiais criados por ele, só sabia que não estava gostando. Na verdade o “micreiro” estava se esforçando bastante para aplicar a identidade nos materiais, mas não conseguia por falta de conhecimentos técnicos específicos. Qualquer designer com um pouco de experiência conseguiria desenvolver os materiais sem problemas, e deixaria o cliente satisfeito.

No final o cliente acabou me contratando novamente, mesmo sabendo que pagaria um pouco mais por isso.

Deixando claro que o trabalho do "micreiro" não era péssimo. O cliente não achava feio, por exemplo. Ele simplesmente achava que "faltava algo" - palavras dele. Talvez, se este mesmo "micreiro" tivesse desenvolvido o primeiro projeto para este cliente, ele estaria satisfeito até hoje.

Eu percebo muito isso quando pergunto ao cliente se ele possui referências para o projeto que vou desenvolver. Peço que ele me envie imagens do que ele considera representar um "bom design", não para copiar, mas para entender o nível de exigência desse cliente. Nessas horas é possível notar como o nível de exigência costuma ser baixo. No máximo, quando não enviam projetos de qualidade duvidosa, enviam imagens da Apple, que é a referência que muitos têm sobre "design". E isso é totalmente compreensível.

Exemplo 2: loja de rua é chamada para patrocinar evento escolar

Muitos anos atrás um cliente me contratou para desenvolver a marca da sua loja de rua. A empresa era nova e eu estava terminando a faculdade. Ou seja, tinha pouquíssima experiência.

Desenvolvi o projeto praticamente de graça, mas ganhei a confiança do cliente por ter realizado um bom projeto. Alguns anos depois, já mais maduros – eu e o cliente, decidi oferecer a ele uma reformulação da identidade. E para minha surpresa ele aceitou, mesmo que não estivesse insatisfeito com o projeto. De certa forma era um momento interessante, pois os materiais externos, como letreiro, placas, banners, estavam velhos, sem cor, e não seria má ideia reformular tudo.

Mantive exatamente o conceito original e praticamente os mesmos traços, mas desta vez com muito mais técnica e com um entendimento muito mais amplo sobre design. O novo projeto já tem alguns anos e não vejo necessidade em fazer um redesign tão cedo, pois agora sim considero um projeto duradouro. Tanto eu como o cliente estamos bem satisfeitos.

A loja começou a receber mais visitas por conta do novo visual, e inclusive foi chamada para patrocinar um evento escolar. Quando o dono da loja perguntou para a pessoa que o convidou: “Por que você escolheu minha loja?” – A pessoa respondeu: “Porque eu achei ela linda.”

Ou seja, o pouco de experiência que ganhei nesse tempo foi o suficiente para atribuir um valor à loja que nem eu mesmo esperava. Nós já achávamos bonito antes, mas desta vez tinha um "algo a mais".

Exemplo 3 – dando consultoria por aí

Uma coisa que acontece com uma frequência razoável é me procurarem para opinar sobre projetos desenvolvidos por outros profissionais. Na maioria das vezes estes profissionais são “micreiros”, mas o cliente dificilmente sabe disso.

Sempre que faço uma análise sobre um projeto nestas condições percebo que o cliente não faz ideia do que ele não gosta, como mencionei no "Exemplo 1". Ele só sabe dizer que não gosta sem entender a origem do problema. Ao mesmo tempo eu noto um esforço enorme da parte do “micreiro” em dar o seu melhor, faltando apenas a experiência, talvez. E quando digo "experiência", não me refiro a repetir o errado muitas vezes, mas aprender o certo e evoluir daí.

Vejo bons conceitos, mas com explicações mal elaboradas. Vejo desenhos bonitos, mas que não são projetos, são apenas desenhos. Vejo apresentações enormes que não dizem nada e vejo apresentações com uma mesma página dizendo muita coisa irrelevante. O cliente "sente" que algo não está certo.

Isso gera um desgaste enorme entre o cliente e o "micreiro", que precisa refazer 500 vezes o layout até o cliente dar a martelada final, vencido pelo cansaço. E é nessa hora que este cliente, que normalmente é um amigo ou membro da família, me procura. "Walter, dá uma olhada neste projeto que contratei. Já aprovei mas ainda não estou satisfeito. O que pode ser?" Rapaz, como isso acontece!

Finalizando, acredito que o cliente contrata um designer quando o enxerga como uma pessoa experiente o suficiente para avaliar, entender a origem do problema e resolver este problema da melhor maneira possível. Exatamente como nós fazemos quando contratamos qualquer profissional.

Espero que tenha gostado deste artigo. Deixe sua opinião, crítica ou quem sabe suas experiências aí nos comentários.

Um abraço e até a próxima.

CRÉDITO

Imagem da capa por Shutterstock

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Tagged: Design · designer gráfico · Dicas
Comments
Andre Corrêa
Parabéns Walter!!!
Como sempre mais um artigo muito bom, gosto bastante quando você coloca situações reais que aconteceram com você, fica mais fácil quando percebemos que os mesmos problemas que ocorrem comigo também acontece com outras pessoas.
Também gosto de pensar que o “sobrinho” não é um ser repugnante que está a tentar destruir os profissionais sérios, mas sim um aspirante que tem muita vontade e pouco conhecimento, ajudar os “sobrinhos” a se tornarem designers de verdade só pode nos trazer benefícios, quanto mais bons profissionais tivermos mais bem vista e valorizada será nossa profissão.
Muito obrigado, Bruno. Concordo com você. Não tenho uma estatística, mas acredito que os “sobrinhos” são, em sua maioria, pessoas que vendem aquilo que gostam de fazer, e que aprenderam do jeito deles.
Não adianta nada que nós, designers, fiquemos reclamando o tempo todo. Isso não vai mudar. A gente tem é que tentar profissionalizar essa galera e entender que eles não são nossos concorrentes.
Obrigado você também, Andre.
Grande abraço.
ALEH MENDES
muito bom, e melhor ainda se, clientes e/ou contratantes consultassem artigos como esse.
Vinicius Oliveira
Ótimo artigo Walter! É bom ver que alguém passa pelos mesmo problemas que eu… aprendo demais com seus exemplos! Valeu!
Muito bom mesmo!
Isso acontecia comigo mas de uma forma diferente quando eu decidi me tornar Designer tinha apenas 16 anos, criava apenas cartões de visita mas sempre me preocupei e como fazer e não qual ferramenta usar.
Mesmo sem experiência nenhuma procurava referencias e modelos e blogs de design mas por mais belo e harmonizado que ficava eu sempre sentia que falta aquele “algo mais.”
Hebert Mendonça
Boa noite Walter seus artigos são muito bons. Gostaria de dizer que sou um “micreiro” e tenho muita vontade de me profissionalizar mais nao tenho condicoes de fazer uma faculdade. Gostaria de saber se existem outros meios de formacao. Abraços!
Olá Herbert, tudo bom? Acabei de responder um e-mail com a mesma pergunta. rs
Acho que existem vários caminhos, mas como sempre digo a faculdade – ou mesmo um curso preparatório te oferecem um caminho mais linear, cronológico. Obviamente não é a faculdade que forma o profissional, é ele mesmo. Você pode se tornar um ótimo designer lendo livros, blogs e assistindo vídeos, mas nada disso adiantará se você não treinar e errar bastante. Este último é apenas um caminho mais difícil, mas totalmente possível.
De qualquer forma meu conselho é que o dia que tiver condições, faça um curso (faculdade ou não). Com certeza não será tempo perdido.
Um abraço.

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