Será que é plágio?

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junho 10, 2015
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7 min read

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Se tem um tema recorrente entre os designers hoje, este tema é o plágio - principalmente quando o assunto é design de marca.

É indiscutível que o volume de imagens disponíveis online facilite a vida de alguns mal-intencionados e que por isso haja sim muito plágio acontecendo, mas com certeza é muito menos do que se promove.

A impressão que tenho é que a cada 10 marcas publicadas nas redes sociais, 11 são acusadas de plágio. Para piorar, essas acusações dificilmente são feitas diretamente para o suposto plagiador, mas compartilhadas publicamente e normalmente utilizando tons desnecessariamente agressivos. Parece que hoje nenhuma opinião é pessoal, todas devem ser públicas e necessitam de aceitação em massa.

Isso muitas vezes pode ter consequências desastrosas pois, neste caso, o que poderia ser uma conversa saudável entre duas partes pode se tornar uma espécie de motim e destruir a carreira de um bom profissional por um erro, deslize, ou pior, por nada.

Não sou especialista em questões legais de registro de marca ou propriedade intelectual, por isso decidi estudar o assunto de forma abrangente antes de fechar uma opinião sobre o ponto de vista do design gráfico.

Este artigo é o resultado deste estudo, portanto, sinta-se livre para tirar suas próprias conclusões.

O conceito de descobertas múltiplas

É totalmente possível que duas ou mais pessoas tenham a mesma ideia, ao mesmo tempo, sem que uma tenha conhecimento da existência da outra.

O conceito de descobertas múltiplas defende a hipótese de que sempre que alguém tem uma grande ideia, provavelmente há outra pessoa no mesmo caminho.

Um dos casos mais conhecidos entre nós, brasileiros, é o de Santos Dumont e os irmãos Wright. Quem inventou o avião, afinal?

Provavelmente os três. A única diferença entre Santos Dumont e os irmãos Wright, ao que tudo indica, é que o brasileiro fez seus testes para o público, enquanto os Wright apresentavam seus vôos na presença de poucas pessoas. Outros nomes, como Otto Lilienthal e Percy Pilcher estavam no mesmo caminho e já vinham tentando construir uma máquina voadora antes mesmo do trio.

Santos_Dumont_Irmaos_Wright

Isaac Newton, inglês, e Gottfried Lebniz, alemão, inventaram o cálculo praticamente ao mesmo tempo, por volta de 1684.

Newton_Gottfried

Charles Darwin propôs a teoria de evolução praticamente ao mesmo tempo que Alfred Russel Wallace. Ambos eram britânicos.

Darwin_Alfred

Toda criação requer influência

Copiar, transformar e combinar” é um padrão presente na evolução das espécies, evolução social e também na criatividade.

Tudo que você cria é inspirado em alguma coisa, e por mais que você tente não terá como fugir. Isso pode explicar o fenômeno das descobertas múltiplas, pois por mais que você crie algo com base nas suas próprias experiências, estas experiências são construídas com base em materiais, referências e necessidades que se estendem para outras pessoas.

Você provavelmente já ouviu a história de que a Apple copiou designs criados pela Braun nas décadas de 60 e 70. Não encontrei nenhuma confirmação sobre esta afirmativa e não acho que isso se caracterize como cópia ou plágio, mas acho bastante provável que a Braun tenha servido como inspiração para a Apple.

Apple_Braun_03_LE1_IMac

Apple_Braun_03_T3_Ipod

Apple_Braun_03_Mac_Pro

Quentin Tarantino é conhecido por fazer referências não somente a vários gêneros de filmes, mas também a cenários, músicas e até mesmo figurinos utilizados em outros filmes.

Game_Of_Death_Kill_Bill_02

George Lucas se inspirou e utilizou diversas cenas de outros filmes como template para criar personagens e cenas de Star Wars.

Star_Wars_Others_Metropolis

Star_Wars_Others_Hidden_Fortress

Star_Wars_Others_2001_Space_Odyssey

Star_Wars_Others_Forbidden_Planet

(Spoilers) Entre 2014 e 2015 assisti a pelo menos 3 filmes que falam sobre transferência da consciência humana para um computador: Lucy, Transcendence e Chappie.

Lucy_Transcendence_Chappie

Os longos períodos de produção de um filme e a proximidade entre os lançamentos indicam que dificilmente um poderia ser cópia do outro. Provavelmente são apenas criações que sofreram as mesmas influências.

Simplicidade x Semelhança x Plágio

Todo designer aprende que quanto mais simples, melhor. Por mais que haja controvérsias ou interpretações distorcidas sobre isso, é fato que muitos designers buscam formas cada vez mais simples nas criações de suas marcas.

Imagine que você, designer, precisa criar uma marca cujo conceito é casa. Qual o primeiro símbolo que lhe vem em mente?

casa

Uma casa, certo?

Por mais básica ou inautêntica que esta ideia possa parecer, muitos designers pensariam nesta mesma solução. Será que em nenhum momento estas soluções teriam similaridades sem que uma seja necessariamente plágio intencional da outra?

Agora imagine que o designer, em uma busca por simplicidade e abstração, simplifique o desenho para a forma mais básica possível e o resultado seja a imagem abaixo.

Seta_Para_Cima

Este símbolo é tão comum e abrangente que em teoria pode ser facilmente plagiado, mas será que a marca se resume a este símbolo?

Deixando de lado as questões de registro legal do desenho da marca, o fato é que marca é muito mais que um símbolo. É comportamento, posicionamento, conceito e entre várias outras características é representada também pelo seu design através da assinatura visual (símbolo e/ou logotipo) e uma identidade visual.

Apesar do registro de marca não levar em consideração todas as manifestações visuais da marca, e eu acho que deveria, é nesse comportamento que marcas com símbolos relativamente comuns se diferenciam.

A Moving Brands criou o projeto de marca e identidade visual para uma startup indiana chamada Housing. O resultado você confere abaixo:

MB_Housing_system_GIF2_640

MB_Housing_graphics_708_640

MB_Housing_Experience_HousingMoments_7081_640

MB_Housing_experience_Bag_RGB_02_640

Clique aqui para conferir o projeto completo no site da Moving Brands.

Pergunto:

  • Será que estamos todos proibidos de criar uma assinatura visual cujo símbolo é uma seta para cima?
  • Será que uma seta para cima é algo simples demais para ser usado como símbolo?

Abaixo cito o designer de marcas Guilherme Sebastiany, em uma entrevista feita para o site LOGOBR:

"... a adoção de um símbolo original e distintivo pode ser parte da solução, porém novamente sua criação não pode ser apenas “estética”. A originalidade nestes casos deve sempre ser estabelecida frente ao tema do segmento. Por exemplo, nas áreas de importação e exportação, trading, e comércio exterior, são comuns as marcas com círculos, globos terrestres e setas. Mesmo com um desenho original de um globo, por exemplo, a proteção no segmento será limitada, pois o tema é comum. Se o nome for genérico será importante romper com o tema do segmento, se o objetivo do projeto envolver a proteção da marca contra concorrentes parasitas. Para conhecer o tema ou os temas de cada segmento, o designer deve fazer sempre uma pesquisa ampla de linguagem de categoria antes de começar o desenho, até mesmo para evitar que a marca que está criando seja ela mesma acusada de parasitagem ou plágio.

O exemplo acima, do símbolo de uma marca, é emblemático e comum, mas a proteção através da criação não se limita a ele. Em cada uma das partes da marca: nome, cores, formas, ícones, tipografia etc, a arma de proteção é sempre a personalização. Embora a originalidade em si não deva ser o objetivo de um projeto, e o rompimento com o segmento tampouco a única premissa de criação, quando há originalidade evidente em um projeto ela pode ajudar a comprovar a má-fé dos imitadores, seja na combinação de cores, grafismos, formas e desenho das letras."

Minha opinião

Acredito que não basta simplesmente fazer uma pesquisa por imagens similares, como vejo muitos aconselhando. O plágio, como o Guilherme Sebastiany deixou claro, não se caracteriza apenas pela forma do símbolo em si, mas por várias outras características, como o desenho do logotipo, cores, área de atuação, etc.

Também acho que apesar de formas simples estarem mais propensas ao risco de plágio, isso não significa que todo símbolo que possua uma forma simples seja cópia ou represente falta de criatividade.

Por isso, por mais que você tenha certeza que testemunhou um plágio, não acuse publicamente o suposto plagiador. Caso tenha sido você a vítima, entre em contato direto com a pessoa e tente resolver pacificamente. Tudo pode não se passar de um erro de interpretação.

Este artigo foi escrito com base em experiências pessoais somadas ao conhecimento construído com a ajuda das referências listadas abaixo:

Canal Piloto: Santos Dumont x Irmãos Wright: afinal, quem inventou o avião?

Everything is a Remix: Séries 1, 2, 3 e 4. 

LOGOBR: Registro de marcas: as leis e o design

Matheus Moura: O plágio da ingenuidade

Rudinei Modezejewski: Você é um designer pirata?

Imagens usadas

Alfred Russel: Wikipedia

Apple IMac: Mac Daily News

Apple Ipod: Artblard

Braun T3 Pocket: Phaidon

Braun LE1 Speaker: Lamula

Bruce Lee e Kill Bill: Fanpop e Cinema Uol

Capa: The Noun Project

Charles Darwin: Wikipedia

Chappie: Wikipedia - Chappie

Darwing's Pigeons: Mun

Gottfried Wilhelm: Wikipedia

Irmãos Wright: Wikipedia

Isaac Newton: Wikipedia

Lucy: Wikipedia - Lucy

Santos Dumont e 14-bis: Wikipedia

Star Wars e similares: Everything is a Remix (Part 2)

Thomas Edison: Ciências e Tecnologia

Transcendence: Wikipedia - Transcendence

Tagged: Design · Marcas · Plágio
Comments
Marcos Freitas
Parabéns pelo artigo, muito bom, esse sempre é um tema que gera muita discussão, acho que uma boa pesquisa sempre ajuda nessas horas e, pode evitar certos erros. Acho também, que devemos ter um cuidado pra não confundir as referências para não ficar preso a elas meio que subconscientemente.
Carlos Nani
Ótimo artigo Walter. Aqui no Rio teve um caso recente, uma faculdade foi acusado de plágio de um cartaz da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), cartaz esse que era para divulgar um evento sobre design dentro da própria faculdade.
Na época saiu até mesmo no site da globo.com, o que gerou muita dificuldade aos alunos que estavam fazendo tcc, já que houve um aperto em cima dos trabalhos apresentados por eles, além disso, curiosamente o campus mudou até de nome depois!
Excelente artigo. Parabéns!
Eu o li, mas em seguida voltarei para estuda-lo. Um abraço!
lucas
Único site que eu consigo ler até o fim cada matéria que abro no meu navegador. Materias/artigos que tem conteúdo. Um dos poucos designers que levam em consideração cada aspecto do design, e melhor, compartilha seu conhecimento e conteúdo com a gente. Parabéns, continue assim, contribuindo com o desenvolvimento do design aqui no Brasil.
Belo artigo! Obrigado Walter.
Interessante artigo, Walter! A necessidade de uma pesquisa aprofundada e um conceito bem estruturado torna o projeto com uma identidade única.
Tenho acompanhado o seu trabalho e os artigos e eles seguem uma linha de pensamento que sigo. Parabéns!! Abraços e sucesso.
Uilliam Sirqueira
Gostei Muito, bem esclarecedor! Esse lance de descobertas múltiplas é bem louco, realmente é “quase” impossível ter uma ideia sobre algo(um símbolo, um nome ou uma tipografia) sendo que somos influenciados, ou melhor, bombardeados por tantas referências visuais que subliminarmente usamos algo que vimos em alguma criação.
Enfim! Parabéns Walter!
Franklin
Realmente bem pertinente esse artigo.
Esse último artigo é extremamente proveitoso, Parabéns. Abraço.
Há um trecho em seu texto, Walter, que eu acho que resume exatamente o momento que vivemos:
“Parece que hoje nenhuma opinião é pessoal, todas devem ser públicas e necessitam de aceitação em massa”.
É como se quiséssemos convencer os outros desnecessariamente sobre nosso ponto de vista e, o mais lamentável, é que isso geralmente acontece de forma negativa. Raramente vejo alguém empenhado em convencer outro a elogiar, mas todos os dias vejo o contrário.
Acredito, por isso, que seu texto – excelente, por sinal -, não se aplique somente ao tema abordado. Nos convida a refletir sobre o cuidado que devemos ter antes de emitir publicamente uma opinião, principalmente quando esta prejudicar alguém. Carreiras podem ser destruídas assim.
O crescimento, seja ele pessoal ou profissional, não deve nunca estar calçado na destruição e desvalorização do alheio, mas na constante valorização do que é nosso. Da nossa imagem, do nosso trabalho… Conheço empresas e profissionais que alcançaram sucesso estrondoso, assim, enquanto outros ruíram seguindo o primeiro modelo.
Parabéns pelo texto!
Bruno Aquino
Show! Parabéns pelo estudo e texto, é a mais pura verdade.
Ótimo artigo.
Acusar de plágio, acho que é mais uma questão de achar que tudo tem que ser exclusivo e propriedade de quem “criou” primeiro.
Daqui a pouco, só porque a outra empresa usa vermelho, você não vai poder usar vermelho também.
Você foi muito feliz neste artigo.
Também tive experiências e acompanhei outros embates entre colegas designers (quem nunca?)
Compartilharei nas minhas redes sociais para ajudar na abrangência do seu ponto de vista em que me identifico!
Parabéns pelo artigo e pelo blog. Gosto dos temas e o tom que usa.
Sucesso!
Plágio não existe! :)
A cópia é parte essencial do processo criativo:
Rodrigo Santana
Ótimo artigo, Walter!
Outro ótimo artigo, obrigado Walter por compartilhar seu conhecimento.
Walter,
Em primeiro lugar, parabéns pelo ótimo artigo!
Em segundo lugar, obrigado por me incluir nas referências, foi uma grata surpresa… estava eu, aproveitando o ótimo texto quando, do nada, dou de cara com um link para um artigo meu…
Aproveito para deixar outros dois links,acho que vai gostar:
Enjoy!
Eu quem agradeço, Rudinei.
Queria eu ter visto estas referências antes.
Um abraço.
adorei as referencias, muito bom mesmo.
Valeu, Henrique!
Um abraço.
Gustavo Ramos
Sou designer por formação e meu TCC foi justamente sobre a violação da propriedade intelectual no design. Infelizmente existem casos de má fé como também existem o inconsciente coletivo e a saturação das formas, abordados neste artigo. É um assunto bastante complexo que requer uma análise detalhada, pois como o Walter disse, pode comprometer a carreira de um profissional por um simples erro ou engano. Existem também o fator “cultural” de que nada se cria, tudo se copia e a pressão empresarial ligada ao sucesso da concorrência, como podemos ver nos casos entre Apple e Samsung. A minha pesquisa ficou aberta para novos desdobramentos pois o assunto possui um aspecto bastante multifacetado. Parabéns Walter por este e por todos os seus outros artigos, virei seu seguidor!
Outro fato também que na minha opinião também acaba deixando algumas marcas parecidas é tal da tendencia. Tipo, eu vejo muitos projetos no behance que são extremamente criativos, no entanto, semelhantes a outros justamento por causa do “minimalismo, flat design, etc” isso pra mim não é plágio, mas acaba ficando quase tudo igual!
Obs.: Interessante o que disse Gustavo Ramos, no contexto em que muitos clientes querem fazer algo em cima do que esta dando certo, e esse é um fato bem comum!!
Obrigado você por trazer uma visão mais aprofundada sobre o assunto, Gustavo.
Espero que os leitores do post vejam suas considerações.
Um abraço.
Assim que li “se tem um tema recorrente hoje, este tema é o plágio…”, primeira coisa que pensei NÃO mesmo kkk mas pelo visto você pensou o mesmo, só que eu nem fui tão longe na história. Fui na minha própria história mesmo, há uns 11, 12 anos atrás eu iniciava minha vida na web e nos designs da vida, com um ano mais ou menos eu evolui muito, muito mesmo. O lance de ter blog e tudo mais era muito diferente do que está ai hoje em dia com essas blogueiras mais conhecidas, pra mim, especificamente, a melhor parte de ter um blog era a construção dele, fazia o layout no photoshop s2 s2 s2, e todas as frescurinhas da época, button, gifs com prêmio, barra de final de post, tudo o que tinha direito, era massa ó hehehe.. desenrolava o código html, montava tudo bonitinho no blogger, blogspot ou weblogger (pior lugar), todas as páginas internas, etcc.. Bom, com o tempo em que fui pegando o jeito, aparecia vez ou outra uma menina que copiava o layout, mas não era assim, uma inspiração não, a bicha salvava a imagem do meu layout, mudava pro nome dela, bem grotesco mesmo a cópia, tirava os meus créditos do layout e usava mermo. De vez em quando a gente achava ou tinha alguma das amigas virtuais que encontravam. Eu lembro de ficar chateada, até mesmo meio chocada, só que esse tipo de gente das duas uma: ou ia aprender a fazer coisa por si só ou saia fora rápido e sempre chegava um grupo dizendo que viu o plágio, pedindo pra retirar e tal. Tenho certeza que com marca o negócio é mais delicado sim, se tiver uma aparência muito, muito semelhante, mas concordo que a solução nunca deva ser expor a pessoa ou coisa do tipo, acho sim que uma conversa antes pode resolver o negócio. Até porque difamação ou calúnia é crime previsto no código penal e geralmente as pessoas pecam por partir pra esse tipo de coisa antes do que tentar entender o problema, ouvir as partes, juntar as provas e o que as pessoas falaram. Enfim, é isso ai, se as pessoas dialogassem mais, procurassem entender mais o outro lado, teríamos um mundo melhor e com menos juízes com certeza! bjs
Fico feliz que tenha se identificado, Mariana. E muito obrigado por dividir sua história. Certamente será mais uma referência para os leitores deste post. Um abraço.
ÓTIMO ARTIGO, obrigado por compartilhar conosco !

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