No dia 23 de janeiro de 2018 completei 4 anos de blog. Pois é, o tempo voa.
Nos anos anteriores você me viu comemorar o aniversário apresentando estatísticas e informações sobre o ritmo de crescimento do blog, do canal no Youtube e do meu crescimento profissional – posts mais acessados, entrevistas, podcasts, enfim.
Você viu o lado bonito da história. Você não viu as pedras no meio do caminho, os questionamentos, os abacaxis. Pois bem, hoje é sobre isso que falarei com você.
Mas antes, como já é de costume, obrigado. Agradeço a você que vem acompanhando até aqui e espero que continue comigo nessa trajetória.
Hoje utilizarei este espaço para me expressar, dizer o que sinto desde que me dei conta que estava deixando de ser apenas um designer e me tornando um produtor de conteúdo com relevância na internet. Mas espera aí, eu deixei de ser apenas um designer? Ou melhor, eu sou apenas um designer e produtor de conteúdo?
Vamos por ordem cronológica.
2014
Em 2014 dei início a uma ideia antiga, a de ter um espaço para compartilhar tudo aquilo que eu havia aprendido. É claro que essa ideia, antes de 2014, passou por um longo período de maturação. Ela não foi implementada de uma hora para outra, mas lembro muito bem que em um determinado momento eu disse à minha esposa (namorada, na época): vou criar um blog, ganharei relevância e ficarei conhecido por ajudar as pessoas.
Porém, apesar de o blog ter crescido num ritmo muito rápido, não foi um ano fácil. Ao investir meu tempo no blog eu estava abrindo mão de outras coisas, de outros projetos. Eu estava focado em produzir, mas não tinha um planejamento. Eu não sabia onde isso ia dar. Ao mesmo tempo, problemas pessoais surgiram e levantaram a dúvida se eu deveria continuar ou não investindo no blog. Deveria eu voltar para o meu modelo antigo de trabalho? Enfim, permaneci focando no blog.
As reações estavam muito positivas, eu não podia desistir agora. Já estava dando palestras, sendo mencionado em outros blogs de design e recebendo algumas ofertas de parcerias.
No final do primeiro ano eu havia ganhado uma relevância muito acima do esperado – a verdade é que, naquele momento, eu ainda não esperava nada.
Aquilo me assustou um pouco.
2015
2015 foi meu ano intelectual. Comecei a explorar temas difíceis, complexos, que exigiam muito estudo e didática para serem transmitidos de maneira eficiente. Eu estava empolgado, doido para dar saída em tudo que eu achava que seria útil. O ritmo das publicações diminuiu, mas o nível técnico aumentou, e bastante.
Como consequência agora as pessoas reagiam ao conteúdo de forma mais vigorosa, mais espantosa e, de certa forma, sem que elas percebessem, em alguns momentos estavam sendo um pouco pessimistas em relação a si mesmas.
- Você é um gênio!
- Nunca serei igual a você!
- Impossível chegar nesse nível!
Eu estava me tornando uma espécie de “celebridade” dentro do meu nicho. Será que eu queria isso?
Foi então que comecei a sentir o peso da responsabilidade que é estar nesta posição. Tudo que eu digo por aqui pode influenciar a vida de alguém. E essa influência pode ser para o bem ou para o mal.
Não é à toa que foi exatamente em 2015 que eu escrevi o artigo “Nunca vou chegar nesse nível”.
Este foi meu primeiro “desabafo”. Eu queria mostrar que a admiração por outra pessoa ou profissional não deve nos gerar frustrações, mas sim nos estimular a crescer.
Os problemas pessoais foram menores em 2015. Isso me ajudou a manter a mente tranquila para continuar produzindo, mas a coceira da responsabilidade estava aumentando.
2016
O ano dos podcasts, entrevistas e do sucesso arrebatador das análises gráficas.
Praticamente uma evolução linear de 2015. Conteúdos cada vez mais complexos e, consequentemente, cada vez menos conteúdo.
Nesse período alguns problemas pessoais estavam voltando à tona, o que começou a interferir na minha produtividade, mas não o suficiente para me parar.
Nesta fase eu recebia muitos depoimentos de pessoas dizendo como fui importante em suas vidas. Como um texto, um vídeo ou apenas uma frase teria sido o suficiente para uma mudança de rumo.
O peso da responsabilidade estava muito alto aqui. Tudo que eu fazia precisava ser “perfeito”. As pressões externas e internas da vida continuavam e minha exigência sobre mim mesmo estava aumentando.
Me sentia um cara de sorte, mas a ideia de "sucesso" nesse ponto me deixava dúvidas.
2017
O caos.
Qual meu papel aqui, afinal? Me peguei inseguro, incomodado com algo que eu não sabia explicar.
Foram anos vivenciando experiências de troca de conhecimento, de retornos positivos, mas também anos vivenciando os bastidores do que é ter um blog. Eu praticamente não recebia críticas negativas, mas estava me decepcionando cada vez mais com a internet – ou melhor, com as pessoas da internet.
Vi muitos comportamentos agressivos, pessoas agindo na simples intenção de fazer o mal, de causar a discórdia e ganhar no grito. Vi profissionais diminuindo outros de maneira agressiva e se unindo para atacar em grupo, em comportamento de manada. Vi pessoas inocentes venerando ídolos que elas sequer conhecem os valores. Enfim, eu agora tinha acesso a um universo que eu desconhecia antes de ter um blog. Isso foi me frustrando.
Mais frustrante ainda foi perceber que eu havia me tornado um desses ídolos. Eu não queria isso, queria ser apenas um cara publicando conteúdo na internet.
Mal sabia eu que isso era impossível.
Me senti como um impostor, um ator. Já que eu estou no meio disso tudo, o que me diferencia?
Será que eu mereço esse sucesso? Será que é justo eu estar nessa posição enquanto outras pessoas se sentem inferiores a mim – e a outras pessoas com relevância na internet?
Quando me dei conta estava vivenciando este mesmo senso de inferioridade. A única diferença é que eu estava me sentindo inferior a mim mesmo.
Depois de um tempo, em meio a estresses complexos na vida pessoal e uma gangorra de sentimentos na vida profissional, fui obrigado a investir no meu autoconhecimento.
Percebi que por mais que nós sejamos muito bons em algo, nós nos enxergamos apenas por dentro. Somente a gente conhece todas as nossas complexidades, medos e limitações. Mas quando olhamos alguém de fora só enxergamos aquilo que nos está acessível ou apenas o que queremos ver.
Foi então que entendi meu público e a mim mesmo. Quando percebi que não me enxergava por dentro como as pessoas me enxergavam por fora, entendi que isso é comum a todos nós.
Todos somos sucesso e fracasso ao mesmo tempo.
Encerrando
Problemas existem, fazem parte da vida.
Obstáculos, reflexões e inseguranças sempre surgirão. Se permita sentir isso, mas saiba dentro de você o que você realmente quer. Não se deixe enfraquecer pelo que você enxerga nos outros ou em você mesmo.
Use seu tempo e seu poder de decisão pra isso.
Um abraço e um ótimo 2018 pra você.
sempre considero o que você diz sobre design gráfico e já me ajudou bastante!
Obrigado por executar este trabalho aqui no blog.
Obrigado por esse feedback.
Um abraço!
Um abraço, cara!
Um abraço.
Este não foi um texto de despedida, apenas uma reflexão, desejo de pensamentos mais estruturados e atitudes pacíficas para todos nós.
Um abraço.
Comecei a te acompanhar e vc, de fato, me inspira a ser uma profissional melhor. Obrigada! Espero que o lado bom do mundo te faça continuar :)
Um abraço.
Obrigado por todos os aprendizados e acima de tudo por ser essa pessoa maravilhosa.
Um abraço.
Grande abraço!
Grande abraço e sucesso na sua jornada.
Conheci você pelo Escaleno. Estou conhecendo o seu trabalho agora e tudo que colocou neste texto é perceptível no seu trabalho.
Obrigada pelo blog e parabéns pelo seu trabalho.
Um abraço.
Pois bem, eu passei alguns meses no After Effects e fui percebendo que eu tinha queimado algumas etapas. Comecei a achar que eu queria fazer filme sem entender de fotografia. Que vacilo!
Foi então que eu resolvi me aventurar no illustrator antes de voltar pro After Effects. Acabei achando o teu canal do YouTube e achei a didática boa, os conteúdos eram bem explanados, tinha um ar sério e não tinham uma hora de duração. Isso era ótimo.
Mas aí eu via os comentários, como esses que você descreveu acima. E eu até compartilhava do sentimento dessas pessoas, só que eu também imaginei o tanto de tempo e dedicação você tinha que ter pra poder passar um conteúdo bom pra gente, as pessoas que te acompanhavam.
Me senti triste ao ver que você não produz mais vídeos pro canal.
Obrigado pelo depoimento e palavras de apoio. Engraçado, quando escrevi este artigo não o fiz com o intuito de me despedir da produção de conteúdo. Desde o primeiro ano eu sempre registro, em artigo, como é essa experiência de estar à frente de algo que exige tanta responsabilidade, dedicação, autocrítica. Realmente essa “Jornada do Herói” não é fácil. Mas não penso em me despedir tão cedo.
Certamente quando escrevi o artigo ele refletia diretamente um momento. Momento esse que já se transformou em outros momentos, outras fases, e que me afastaram um pouco da produção de conteúdo. Talvez eu soubesse que ficaria um tempo longe, só não imaginava que passaria tanto tempo. No final, tem sido bom. Estou ausente mas não distante, muito menos sem intenção de voltar. Talvez eu esteja me reabastecendo.
Sobre seus estudos, desejo sucesso. Surgindo qualquer barreira na qual sinta que eu possa ajudar, basta dar um alô.
Grande abraço e obrigado mais uma vez.
Isso vai acontecer independentemente da nossa profissão, da nossa vontade ou do nosso humor, estamos sempre influenciando pessoas. Seja através de uma conversa, de uma palavra amiga, de um artigo ou mesmo através de um simples depoimento. ;)
Essa é uma responsabilidade que cabe a todos nós, e é sempre muito bom quando nos damos conta de que esse efeito que causamos foi, de alguma forma, positivo.
Muito obrigado por compartilhar isso, Lucas.
Um abraço!
Mas é preciso muita sensibilidade e maturidade profissional (e creio que principalmente pessoal) dar a mão e mostrar as pedras, dizer onde caiu, onde doeu, como apanhou, porque apanhou, o que aprendeu das experiências e vivências não tão positivas (ou negativas mesmo)… De mostrar a humanidade que há na profissão, das escolhas erradas, das equivocadas, e deixar aberto o espaço para o pensamento e a possibilidade do erro (que vai acontecer).
A gente tá na situação de ter que agradecer o ser humano por ser humano.
E comento pela primeira vez aqui pra te dizer:
Eu quem agradeço por dedicar seu tempo em escrever algo tão revigorante e bonito no seu primeiro comentário. Li suas palavras antes de dormir e, tenha certeza, dormi melhor por isso.
Obrigado mesmo.
Um abraço.
Seus conteúdos são de excelente qualidade!
Tenho uma dúvida, o que fez você parar de atualizar?
Faz falta.
Grande abraço!
Até Ed Catmull (presidente da Pixar) já se sentiu um impostor. É “normal”. Mas você merece, sim, sucesso. Ele é apenas a consequência do seu trabalho. Mais que isso, é a sua maneira de deixar algo positivo na vida das pessoas. Já aprendi muito com você.