"Você demorou esse tempo todo para fazer isso?"
Espero que você nunca tenha ouvido esta pergunta após apresentar o design da sua marca para um cliente, mas infelizmente essa é uma realidade para muitos. A boa notícia é que este problema pode não ter a ver com a qualidade do seu design, mas sim com a forma como você apresenta este design.
Coloque-se no lugar do cliente e se faça algumas perguntas.
- Ele está me contratando para fazer um desenho ou para solucionar um problema que somente eu consigo resolver?
- Será que apresentar a solução é mais importante do que mostrar como cheguei nessa solução?
Antes de apresentar sua marca para o cliente, contextualize!
Sem contextualização nem a melhor marca do mundo é a melhor marca do mundo.
Imagine que você acabou de conhecer um grupo de pessoas que desconhece a empresa Apple, apesar de estarem familiarizados com computadores. Você apresenta o símbolo da maçã mordida e pergunta o que este símbolo representa para cada um deles.
Por mais que você seja uma apaixonado pela empresa ou pela beleza e simplicidade do seu símbolo, acha que alguém iria responder que “com certeza o símbolo representa uma empresa que comercializa produtos eletrônicos de consumo, software de computador e computadores pessoais”?
Sério? É muito mais provável que alguém diga que se trata de uma marca de hortifrúti.
Isso acontece pois a pessoa que emite opinião com base apenas no símbolo está completamente descontextualizada. Ela só pode avaliar superficialmente, então para ela sua marca pode ser apenas bonita, feia, ou qualquer coisa parecida com outra coisa. Soa familiar?
A única ferramenta que você precisa para contextualizar um projeto é informação. Se você utiliza as respostas do briefing para desenvolver seu projeto, por que não usá-las na hora de explicá-lo? Quando você utiliza as respostas do próprio cliente para defender seu projeto, ele não só entende a importância de ter respondido suas perguntas, como terá uma confirmação de tempo e dinheiro bem investidos.
Caso você ainda não tenha desenvolvido seu próprio briefing, sugiro que leia este artigo: Dicas para montar seu briefing de design de marca
Tudo pronto, você coletou o briefing, deu seu preço, o cliente aprovou seu orçamento, você desenvolveu o projeto e agora é hora de apresentar. Por onde começar? Pelo começo, oras.
Se você já leu o artigo 10 dicas para aprovar sua marca com o cliente deve ter visto que no item 7 eu demonstro uma ordem cronológica de apresentação de projeto. Como falei por lá, esta ordem pode variar de acordo com cada projeto, mas não varia muito - pelo menos para mim. Normalmente minha defesa segue a mesma ordem cronológica do projeto em si.
Abaixo vou descrever as 5 primeiras etapas da minha apresentação. Lembrando que estas etapas são apresentadas antes do design da marca.
Desafios
Começo descrevendo o desafio ou a essência do projeto, sempre tentando aproveitar palavras ou frases do próprio cliente, e quando necessário, desenvolvo minhas próprias conclusões. Evite textos longos ou técnicos demais para não tornar sua explicação cansativa.
Exemplo:
A marca deve representar uma empresa séria e precisa se comunicar com crianças e adultos de baixa renda.
Principais diretrizes
Aqui seleciono algumas orientações ou restrições específicas, também retiradas do briefing. É importante o cliente perceber que estas frases são dele, ou pelo menos releituras do que ele mesmo falou.
Exemplo:
- A marca deve começar trabalhando com as crianças e demais faixas etárias até chegar ao adulto, desenvolvendo uma comunicação adequada aos dois grupos.
- O objetivo é trabalhar a informação para as pessoas que não estão com câncer, mas dependendo do modo como vivem, poderão desenvolver o câncer.
- A marca deve ter boa aplicação em fachadas, camisetas, bonés, banners, em cor que a destaque em casos de fotografia ou filmagens, em ambientes de luz natural, mas também de pouca luz.
Mapa mental
O mapa mental é um simples processo de associação de palavras. Normalmente partimos de uma palavra, que pode ser o nome da empresa ou algo que a defina, e a partir daí acrescentamos novas palavras, que podem ser desdobramentos da primeira ou das novas que vão surgindo. Não é tão confuso quanto parece.
É importante não ter medo de registrar tudo que vier na mente. Aos poucos você começa a enxergar relações importantes que podem te ajudar a definir um conceito ou, melhor ainda, a forma da sua marca.
Neste momento também acho importante testar algumas palavras presentes no briefing, pois assim você se obriga a fazer relações com ideias, conceitos ou restrições concebidas pelo próprio cliente.
Exemplo:
Conceitos
Nem sempre você precisa explicar detalhadamente o conceito da sua marca, mas é comum que depois do mapa mental você tenha uma conclusão sobre ele. Caso você tenha argumentos que possam ajudar a deixar o cliente no clima do que será apresentado a seguir, aproveite.
Nesse momento posso falar sobre cores, formas ou demonstro referências visuais ou textuais que contribuíram para a formação do meu conceito.
Até aqui garanto que ele estará no mínimo curioso.
Rascunhos
Este é um dos itens que considero não essenciais durante a apresentação, então na maioria das vezes não apresento rascunhos para o cliente pois corro o risco de ele gostar mais de um rascunho descartado do que do layout final.
De qualquer forma há casos onde o rascunho pode fazer a diferença entre uma aprovação e um “Você demorou esse tempo todo para fazer isso?”.
Conclusão
Caso você tenha se envolvido com o problema do cliente e encontrado uma solução em que realmente acredita ser a melhor, apresentar a forma como encontrou essa solução pode ser tão gratificante para você quanto para o seu cliente.
Você não precisa apresentar da mesma forma que eu. O que importa é você conseguir demonstrar para o cliente que houve uma verdadeira preocupação com seu problema e que você deu o melhor de si para resolver.
E você, tem outro método ou processo de apresentação de projeto de marca? Compartilhe aí nos comentários.
Um abraço e até a próxima.
Os comentários também estão bem ricos!! :)
Um cliente me contratou para um projeto novo, criar uma identidade de uma empresa nova (já com grandes concorrentes no segmento – listados pelo cliente no briefing).
E em reuniões feitas, percebi que existe uma ansiedade muito grande por parte do cliente em duas frentes.
1- passar o que ele espera do projeto (até mesmo rascunhos, formas, cores etc).
2- ver o resultado final o quanto antes.
Etapa 1 Conceito / Etapa 2 Sketch / Etapa 3 Marca / Etapa 4 Apresentação Completa
Essa pode ser uma forma de acalmar a ansiedade e conseguir uma “compreensão” no desenrolar do projeto por parte do cliente.
Acredito que também é uma forma de fazer o cliente participar do projeto (respeitando certos limites claro).
(Quase um risco calculado… rs)
Mas também acho que posso encontrar soluções bem interessantes com este processo.
Ir participando o cliente das decisões do Projeto em etapas pode ser interessante…
Vou avaliar conforme o andamento.
Vamos ver…
Mas fico com receio de o cliente aprovar algo antes de eu ter amadurecer minhas próprias idéias. Na verdade, tenho dificuldades de respeitar o próprio prazo que eu estipulo por causa da anciedade dos clientes.
OMG… Mas gostei muito do tipo de apresentação que você faz… Vou tentar aplicar no meu próximo projeto.
Obrigado por todas as dicas que você compartilha. Vc é um excelente profissional! Parabéns
Um abraço e valeu pelo comentário.
Sei que demorei a responder, mas espero que tenha tido sucesso no projeto.
Um abraço.