Este pode ser o primeiro de muitos vídeos da série "Análise Gráfica", onde o objetivo é selecionar um projeto gráfico e desmembrá-lo fazendo o processo inverso da construção.
Escolhi o pôster do filme Interstellar devido a sua simplicidade aparente. Decidi analisá-lo através de algumas técnicas, como a utilização de guias e a regra dos terços - muito usada na fotografia, e encontrei algumas "coincidências" nas relações entre os elementos distribuídos no layout.
Caso você tenha algum pôster, cartaz ou qualquer projeto gráfico para indicar fique à vontade para fazê-lo através dos comentários.
Espero que goste da ideia.
CRÉDITO
Imagem do pôster: Concept Arts
Cenas do filme tiradas do trailer
Abaixo segue a transcrição do vídeo.
E aí galera, beleza?
Meu nome é Walter Mattos, e hoje eu convido você a fazer uma análise gráfica do pôster do filme Interstellar, que aliás, é um filme que eu acho que vale muito o ingresso, então fica aí a dica para quem ainda não assistiu.
Este cartaz foi criado pela Concept Arts, que tem vários outros cartazes bem legais, então estou deixando o link deles aí na descrição.
E o que estou chamando de análise gráfica? Bom, existem várias formas de analisar um design, então eu posso avaliar conceito, tipografia, cores, enfim. Neste caso eu vou avaliar a estrutura, assim como eu fiz com o cartaz do Jan Tschichold, que foi um vídeo que o pessoal gostou e comentou bastante e inclusive foi este retorno que originou a ideia de fazer este tipo de análise em outros designs. Então o vídeo de hoje é o primeiro de uma série que eu vou chamar de “Análise Gráfica”, onde eu vou tentar fazer praticamente o processo inverso da construção.
Vou tentar encontrar justificativas técnicas para o posicionamento dos elementos deste pôster traçando guias e grids até encontrar relações entre estes elementos. Vou viajar o máximo que eu puder, pois a intenção aqui não é explicar ou defender o método como ele foi criado, até porque eu não sei, mas sim fazer suposições mesmo e estimular o treino, como já é de costume.
Eu escolhi este cartaz justamente por ele ser aparentemente simples. Então não posso garantir que tudo que eu vou encontrar foi feito de maneira deliberada, mas certamente essa composição foi no mínimo bem estruturada. E eu acho que qualquer estrutura é melhor do que nenhuma.
Composição em pirâmide
A primeira coisa que eu noto é a composição em formato de pirâmide, ou triângulo. Esse tipo de estruturação é muito comum em imagens onde você só tem um personagem ou um elemento em foco, e não precisa ser necessariamente uma pessoa.
Repare também como o título do pôster encosta certinho nas laterais desse triângulo. Isso para mim é uma prova de que pelo menos a pirâmide tenha sido proposital. Ou seja, existe um mínimo de estrutura aí.
Analisando a composição
Antes da gente partir para as “guias de fato”, repare como o rosto do personagem está em evidência. E não é apenas o fato de ser praticamente única parte colorida do pôster e nem a expressão facial, claro, que também está bem evidente como algo feito para me despertar interesse, curiosidade, enfim.
Tem um outro elemento me chamando atenção para o rosto dele, que é essa montanha de gelo invertida. Você pode utilizar elementos do próprio layout para direcionar o olhar do observador, então essa montanha para mim funciona como uma espécie de guia que se alinha perfeitamente com os olhos dele, provavelmente de maneira proposital.
Se você viu o filme sabe que esta cena do pôster não existe exatamente como você está vendo, então isto só reforça a ideia de que houve uma intervenção proposital aqui, até porque o pôster tem uma função específica e diferente do filme.
Uma coisa que eu não sei dizer se é proposital ou não é o fato de eu achar que o criador desta imagem quer direcionar meu olhar para fora deste pôster de qualquer jeito. Eu digo isso porque se você reparar o personagem está olhando para a minha e a sua direita, ou seja, para fora do cartaz, e além disso a inclinação dos outros elementos, que são as montanhas e o chão, me levam para fora do cartaz também.
Se isso tiver sido proposital tem muito a ver com o conceito do filme, que gira em torno dessa ideia de “explorar o que está além”, mas não quero dar spolier do filme, então é melhor você ver o para entender ou tirar suas próprias conclusões.
Regra dos terços
Eu comecei essa análise tentando me basear no retângulo áureo e até encontrei algumas relações interessantes, mas o meu resultado foi muito mais preciso quando utilizei a regra dos terços.
Caso você ainda não esteja familiarizado a regra dos terços nada mais é do que uma técnica, utilizada muito na fotografia, onde o objetivo é dividir a imagem em 9 partes e a partir daí buscar um resultado mais equilibrado pro enquadramento.
Normalmente nessa técnica é comum o elemento em foco se alinhar com uma das quatro interseções centrais.
No caso deste cartaz o personagem está centralizado, mas se eu pegar algumas cenas do filme eu noto enquadramentos perfeitamente baseados na regra dos terços.
Nessa imagem, por exemplo, o personagem principal é o único elemento em foco e com o rosto alinhado perfeitamente com a primeira divisão vertical dos terços. Além disso tanto os olhos como praticamente todo rosto estão próximo da interseção entre os quatro primeiros quadrados.
Se eu quiser ir um pouco mais além percebo que o personagem principal ocupa exatamente metade da tela, enquanto o personagem secundário ocupa exatamente um terço.
Nesse segundo exemplo eu vejo de forma bem nítida tanto o carro como o chão alinhados com as guias. Além disso, se eu traçar linhas centrais neste quadrado eu percebo outras preocupações com o enquadramento, como a altura dos personagens, do carro e do matinho ali das laterais.
Você nota que não é uma exclusividade do design, da fotografia ou sequer do vídeo. É apenas uma regra que você utiliza se quiser, e pode te ajudar a buscar equilíbrio, orientação do olhar, foco, enfim, entre outras coisas que podem aprimorar sua criação, seja ela uma imagem ou um produto.
Encontrando as guias no pôster
Voltando para o pôster, a primeira coisa que eu noto nessa estrutura é que o personagem está enquadrado perfeitamente no centro, assim como essa seção logo abaixo com a chamada “In theaters and Imax”.
A segunda coisa que eu noto são 3 divisões horizontais muito bem definidas, que são o chão, as montanhas no fundo e o céu.
E daqui eu posso começar a viajar. Então se eu traçar linhas centrais entre os três retângulos superiores e depois traçar novas guias no retângulo central, eu encontro um círculo do tamanho quase exato do capacete. E a partir daqui eu percebo divisões bem claras entre a cabeça, o tronco e as pernas.
Se eu subdividir o retângulo central da base eu encontro a guia para o início do texto dos créditos, e dividindo mais uma vez eu tenho a guia para o final do texto dos créditos.
Subdividindo o primeiro e terceiro retângulos do topo eu encontro alinhamento para os nomes dos atores principais do filme. E daqui, traçando uma linha do centro do círculo que a gente encontrou agora pouco eu toco certinho no ponto onde essa montanha invertida tem início.
Aqui eu já começo a não saber mais se isso foi intencional ou não, mas como eu sempre falo a ideia é treinar e estimular o exercício da análise. Assim quando você for criar seu próprio layout vai conseguir estruturar sem precisar queimar a mufa.
Então, continuando a viagem, se eu subdividir o terceiro retângulo superior eu encontro o ponto exato onde termina essa montanha invertida. E subdividindo essa seção mais duas vezes eu encontro o ponto de pico dessa montanha invertida.
Bom, até aqui você com certeza já entendeu a ideia, então vou acelerar um pouco para você visualizar a viagem que eu fiz na desconstrução deste pôster.
Eu tracei uma diagonal da extremidade direita da arte até ela encostar com o ponto inicial da montanha e reparei que a linha toca um dos pontos que nós já encontramos, que é o centro do primeiro retângulo superior.
Depois eu subdividi o retângulo oposto, lá em baixo, e encontrei um ponto de alinhamento com o título, “Interstellar”.
Partindo desse retângulo eu encontrei a metade dele e liguei estes dois pontos, que esticados me dão o ângulo certinho do chão.
E ainda neste retângulo menor eu encontro este ponto, que toca o início do título, que se for invertido para o lado direito toca o final do efeito do título. Isso significa que o título somado ao efeito estão centralizados.
E por último, na mesma seção, eu encontro este ponto que me dá o alinhamento para a chamada do pôster.
Essa é minha imagem final depois dessa análise toda, que nem foi tanta coisa assim, vai.
O que eu acho mais intrigante nessa análise é que a gente encontra todos estes pontos subdividindo a própria área da arte, como é para ser de fato. Mas eu não estou falando aqui de milhares de subdivisões, até porque se eu dividir esta área em 1000 partes com certeza vou encontrar pontos de interseção com qualquer elemento que eu queira, mas são poucas divisões. Eu demorei no máximo 10 minutos para fazer todo este estudo que você viu. O que me leva a crer que apesar de parecer surreal essa desconstrução pode sim ter nos levado a um caminho próximo do original.
E mesmo que nem todos os detalhes tenham sido propositais, uma coisa é fato, existe uma estrutura inicial aqui. E às vezes a pessoa já está tão acostumada a este tipo de exercício, que mesmo que ela não utilize grids ou guias na hora da criação, ela consegue criar um layout muito equilibrado de forma natural, porque já faz parte dela.
Eu encerro por aqui mas você pode continuar viajando por aí. Garanto que você vai encontrar outras “coincidências”.
Espero que você tenha gostado deste vídeo, que pode ser o primeiro de muitos da categoria, e caso você tenha gostado mas ainda não conhecia o canal fique à vontade para ver outros vídeos e se inscrever caso ache o conteúdo interessante.
Você também pode visitar meu blog, waltermattos.com, onde compartilho dicas, reflexões e tutoriais relacionados a design. E você também tem a oportunidade de ver alguns trabalhos meus por lá.
Valeu pessoal, um abraço e até o próximo vídeo.
E olha você fazendo eu me apaixonar por design… :) S2
Um abraço e obrigado pela contribuição.
É possível chegar a esse nível de design sem um curso superior? Já trabalho no ramo, mas queria estudar e agregar mais conhecimento. Ainda é caro o curso superior. Um abraço!