Você já deve ter ouvido algo parecido vindo do seu cliente:
“Quero um cartão mega inovador! Transparente, de plástico, com bordas arredondados e várias dobras! É possível?”
A resposta para esta pergunta é “sim”, mas seria sensato parar por aí? Talvez não. Veja bem, eu disse “talvez”, pois você pode ser um designer que prefere não se envolver nestas questões e apenas produzir o que foi solicitado. Se for este o caso, a vantagem é que você poderá tirar uma graninha extra para produzir um cartão mais “complexo”, digamos.
Mas se por acaso você considerar que este não é o melhor caminho para o seu cliente, vale a pena deixar a sinceridade de lado por uns trocados?
Criar um cartão de visitas já é suficientemente difícil (para quem leva o design a sério) seguindo os padrões existentes. Pois é, existem padrões, e estes padrões existem por várias razões. Entre elas está garantir o não desperdício de papel.
Não vou entrar em detalhes muito técnicos e não vou dar valores realistas, mas imagine que o padrão de uma determinada gráfica é produzir cartões no tamanho 9 cm x 5 cm. A gráfica estipulou esse tamanho porque a folha que ela usa para imprimir estes cartões possui 18 cm x 10 cm. Ou seja, cabem 4 cartões nessa folha. Veja a imagem abaixo.
Se você decidir criar um cartão no tamanho 9 cm x 7 cm significa que está usando apenas 2 cm a mais de papel, certo? Porém, isso significa também que agora você só consegue imprimir 2 cartões por folha, e a gráfica terá que usar mais uma folha para imprimir os outros 2 cartões. O resto do papel que a gráfica não usou vai virar lixo. Confira a imagem.
Agora imagine isso em um cenário com 1.000 cartões. Enfim, a gráfica está jogando fora uma quantidade de papel que ela poderia usar, e seu cliente está pagando mais caro por este desperdício.
Conclusão: antes de criar um layout impresso, consulte a gráfica e veja se ela possui um tamanho padrão para o produto que você está criando.
Continuando, agora pense nas outras solicitações do cliente: plástico, dobras, bordas arredondadas. Tudo isso envolve processos que estão fora dos padrões, encarecem o projeto e desperdiçam material. Além do mais, você não precisa ser expert para imaginar que na maioria dos casos, este cartão terá três caminhos possíveis:
- Será jogado no lixo 10 minutos depois de ser entregue.
- Irá para uma pasta cheia de outros cartões que só é aberta quando recebe um cartão novo.
- Irá para o lixo junto com a pasta quando esta pasta não tiver mais espaço.
Existem várias possibilidades para você criar um cartão com o mínimo de desperdício, e que emita menos poluentes tanto na produção como no descarte.
Se você quiser ser um designer mais atento a estas questões, sugiro que leia o livro Design gráfico sustentável – Brian Dougherty.
Mas e se eu considerar, por uma questão de briefing, que é melhor o cliente não ter um cartão - devo falar isso para ele?
Claro que sim. Mesmo que ele decida fazer o cartão, o mínimo que você pode ganhar são alguns minutos de um bom papo (e a confiança do cliente).
O cartão, na minha concepção, serve para conectar pessoas. E hoje vivemos em um mundo onde conexão é uma palavra do cotidiano de qualquer um, e ninguém precisa sair distribuindo cartões para isso. É bem possível que você encontre alguns casos onde o cartão se torna irrelevante. E por mais que o design seja lindo, poderá não ter função.
Eu mesmo imprimi 250 cartões em 2012 e devo ter distribuído no máximo 20 cartões até hoje (2014) – e metade foi para conhecidos que não precisavam do meu cartão.
Recentemente dei uma palestra na universidade Unigranrio e não distribuí um cartão sequer. Nem por isso os alunos que assistiram deixaram de entrar em contato comigo.
Será que eu preciso de um cartão? Talvez, para eventos onde eu não tenha tempo de falar “Anota meu telefone e e-mail aí no seu smartphone”.
Acho que um cartão inovador pode ser aquele que você não vê, não porque é transparente, mas porque não foi impresso.
Este artigo foi inspirado em uma situação parecida, mas não igual, com um cliente que hoje se tornou amigo. A ideia de desenvolver este artigo foi dele, então fica aqui meu agradecimento.
E para você, o que é um cartão inovador?
Um abraço e até o próximo post.
CRÉDITO
Imagem da capa por Shutterstock.--
A referência de livro tbm é muito boa, tenho esse livro e é bem bacana.
=)
Vi um amigo meu produzindo um web site pra padaria simples do bairro. Cobrou uma grana legal. Cara, ninguém entra em site de padaria. Principalmente uma simples de bairro. Era melhor ter feito o cartão de visita. Ou não (acho que nem isso) sr!