Paul Jarvis: O que você faz quando os trolls vêm marchando?

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Todo domingo acordo lendo a Newsletter do designer Paul Jarvis, que com o passar do tempo se tornou um dos meus autores favoritos. Não por eu concordar com tudo que ele diz, pois nem sempre concordo, mas por ver muita verdade e paixão no que ele fala – e na maioria das vezes com muita coerência.

O artigo de hoje é mais um para a categoria Traduções deste Blog, e fala justamente sobre o fato de que algumas pessoas, por não concordarem com o que o você diz ou apresenta, fazem questão de não somente te dizer, como dizer ao mundo.

O mais engraçado é que eu estou em uma fase de reflexão sobre isso, e já há algum tempo, então este artigo chegou no momento certo. Mas deixo essa parte para o final, quando fizer minhas observações.

Você pode ler o artigo original em inglês se preferir: What to do when the trolls come marching?

* Segundo a Wikipedia, um troll, na gíria da internet, designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nelas.

Segue a tradução

Já fui chamado de spammer, hacker, link-baiter (uma espécie de pessoa que faz de tudo para ter seu conteúdo redirecionado), egocêntrico, idiota desrespeitoso e um pseudo escritor que seria mais bem sucedido se parasse de escrever.

E isso foi apenas semana passada. Sério.

Na semana anterior eu recebi um feedback de um leitor que disse que queria vir na minha casa e me dar um soco por ter escrito meu último livro.

Eu não estou te dizendo isso por simpatia, para chocá-lo ou assustá-lo; Estou apenas dizendo o que pode acontecer quando o seu trabalho atinge outras pessoas, mesmo que não sejam muitas. Eles podem odiar seu trabalho. E podem odiar o suficiente para odiá-lo também só por fazê-lo. Eles podem odiar tanto que sentem necessidade de te dizer, e depois espalhar para outros.

E assim funciona a internet.

Qualquer pessoa com uma opinião pode espalhá-la publicamente nas redes sociais, nos comentários, nos seus próprios sites, ou privadamente por e-mail ou telefone. Recebo tudo isso com certa frequência.

E não sou apenas eu, isso acontece com qualquer um que tenha criado qualquer coisa e compartilhado com outros.

John Nolan, o cara que criou o Ghost (uma plataforma de blog), arrecadou $300 mil para construir sua plataforma de código aberto através de uma campanha Kickstarter maluca e bem sucedida, e muita mídia e eventos nerds. Sua ideia foi do zero a um grande negócio muito rapidamente.

No dia do lançamento alguém twittou “@JohnONolan – $300,000 e ainda assim Ghost é uma m*. Como se sente em relação a isso?”

Como ele deveria se sentir? Algo que ele deu a vida para construir nos últimos 18 meses foi publicamente e sumariamente desvalorizado por um troll que provavelmente não gastou um centavo e nunca usou a ferramenta.

O problema é que, quanto mais o trabalho de alguém aparece, mais fácil é para criticá-lo. A mira de um troll não precisa ser tão boa quando o alvo é alguém que está no centro das atenções.

O pior é que levamos essas pessoas em um pedestal quando fazem algo de si mesmas. Se falam ativamente, respondem de forma pouco diplomática ou apenas se defendem, parece ser algo ruim. Como se estivessem atacando alguém em posição de desvantagem (mas que as atacou primeiro). Vi acontecer com outros e já fui chamado atenção por fazer o mesmo.

Percepção é algo muito esquisito, especialmente online. Tento ser honesto em como me pronuncio por aí, e estou tranquilo com o meu eu público (às vezes falho e nervoso). Mas sustento aquilo que acredito.

Aliás, aqui está o que eu nunca farei: não vou deixar as críticas ou meu próprio medo das críticas afetarem meu trabalho. Isso foi um divisor de águas para mim, quando descobri que medo e ação podem andar juntos. Isso me permitiu experimentar publicamente formas de como expor meu trabalho para o mundo. Isso me levou a algumas batalhas verbais, erros embaraçosos e absolutamente zero arrependimento.

Theodore Roosevelt

“Não é o crítico que importa, nem aquele que mostra como o homem forte tropeça, ou onde o realizador das proezas poderia ter feito melhor. Todo o crédito pertence ao homem que está de fato na arena; cuja face está arruinada pela poeira e pelo suor e pelo sangue; aquele que luta com valentia; aquele que erra e tenta de novo e de novo; aquele que conhece o grande entusiasmo, a grande devoção e se consome em uma causa justa; aquele que ao menos conhece, ao fim, o triunfo de sua realização, e aquele que na pior das hipóteses, se falhar, ao menos falhará agindo excepcionalmente, de modo que seu lugar não seja nunca junto àquelas almas frias e tímidas que não conhecem nem vitória nem derrota.”

THEODORE ROOSEVELT(1910) VIA BRENÉ BROWN | Versão em português via Pensador.uol.com

Progredir como profissional criativo é impossível se deixamos nosso medo ditar nossas ações ou nossa arte. É por isso que Seth Godin não permite comentários no seu site. Devemos nos preocupar mais em deixar nosso trabalho ser uma representação honesta de nós mesmo, e depois torcer para que isso não ofenda ninguém.

Nós compartilhamos nossa criatividade porque sabemos que apesar de corrermos o risco de críticas, ódio e julgamento, existe também a possibilidade de conectar, mudar, e mais importante, ajudar.

Eu não preciso salvar e-mails de ódio, de acusações ou e-mails negativos pois me lembro de cada um deles, mesmo que eu tenha lido apenas uma vez. Mas eu salvo e-mails de qualquer um que me diga que meus textos causaram um impacto positivo – por menor que seja – para suas vidas ou sua arte. Preciso me lembrar destes e-mails de tempos em tempos.

Hoje mesmo (“timing” perfeito, né?) recebi um e-mail de uma consultora de abuso de substâncias perguntando se ela podia compartilhar um artigo meu para as pessoas do seu grupo de recuperação. Já me disseram que este mesmo artigo não acrescentou em nada, e que foi um desperdício de palavras. Foi um artigo sobre negócios, mas ela disse que tinha muita relação com o grupo, pois podia ajudá-los a entender quão importante é o compromisso de dar sua palavra. Ganhei meu dia. E-mail = salvo.

Se permitirmos que uma única pessoa nos faça mudar de ideia em relação a compartilhar nossa arte, nosso trabalho, nossa voz – eles vencem. Não curto trolls vencendo. Eles podem ter seus caminhos, mas não nossa criatividade. 

Minha opinião sobre o artigo

Nas semanas anteriores ao artigo do Jarvis uma série de acontecimentos me fizeram refletir sobre essa questão, de como o que você faz na internet tem o poder de afetar as pessoas, positiva ou negativamente.

Na mesma semana, recebi pela primeira vez, várias respostas à minha Newsletter. Felizmente, todas as respostas vieram em forma de agradecimento ou incentivo sobre o conteúdo, mas sei que é inevitável que de uma hora para outra eu comece a receber críticas com a intenção inversa, de me colocar para baixo. Basta que minha voz seja ouvida por mais pessoas.

Não que seja um problema discordarem do que eu falo, aliás, eu espero que discordem, pois contanto que haja respeito na discussão a discórdia muitas vezes reflete em aprendizado. Eu mesmo já tive um comentário de um leitor em um grupo do Facebook falando para as pessoas “não darem ideia para um maluco (eu) que só queria se promover e ganhar dinheiro”. E realmente, como o Jarvis falou, as críticas negativas a gente não esquece. Para a minha felicidade, depois de duas ou três respostas de cada um, essa mesma pessoa explicou que a intenção dela não era causar nenhum constrangimento, e hoje é um cara que lê e comenta os meus artigos sem nenhum tipo de agressão verbal.

Ou seja, é possível reverter o quadro. E a verdade é que quando expomos uma opinião ou um trabalho na internet, abrimos espaço para que as pessoas digam o que elas acham. Por isso, ao contrário do que o Jarvis mencionou, eu acho justo manter espaço para comentários no meu Blog. Acho interessante buscar opiniões em grupos no Facebook, no Twitter, ou onde quer que seja – mas sempre ciente de que podem haver represálias.

Por isso é muito importante tomar cuidado com o que diz. Conhecem aquele ditado “quem fala o que quer ouve o que não quer”? É bem por aí.

Por isso, antes de expor sua voz pelo mundo, seja com seu trabalho ou opinião, tente mostrar para dois ou três amigos antes. Eles te dirão se você está no caminho certo, e caso eles não pensem como você, pelo menos dirão isso sem agredí-lo.

Recentemente falei para um amigo, designer, que ele poderia ter um Blog. O cara é realmente muito bom, e eu certamente seria um leitor recorrente do seu Blog. A resposta que ele me deu foi: “Eu não, tenho medo dos haters (o mesmo que trolls)”.

Se tem uma coisa que concordo muito neste artigo é sobre a importância que um feedback positivo tem. Isso porque muitas vezes transmitimos uma ideia com a intenção de prevenir as pessoas de passarem pelos problemas que passamos. E por menor que seja essa ideia, ela pode sim afetar muitas pessoas e de forma muito positiva. Eu mesmo às vezes não acredito nos feedbacks que recebo. A vontade que dá é de salvar tudo realmente, e olhar todos os dias.

Não importa quantas pessoas tentam te colocar para baixo. Se alguém tentar te colocar para baixo, tente colocar essa pessoa para cima!

Espero que tenha gostado deste artigo. Se tiver alguma opinião sobre o assunto, compartilha aí. Não vou ficar chateado se não concordar.

Um abraço e até o próximo artigo.

CRÉDITO

Ilustração original da capa por Wikipedia

Walter Mattos é um designer brasileiro apaixonado por criação de marcas e identidades visuais. Em seu blog e canal no Youtube compartilha suas experiências através de dicas, reflexões e tutoriais relacionados a design.

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8 comentários

  1. Walter Mattos

    Muito obrigado, Lucas, e boa sorte com seu blog. Aguenta firme os trolls. Bruno Gama, vai tranquilo e boa sorte no seu projeto.

    Obrigado Bruno Lollato e Héverton por compartilharem suas opiniões.

    Aleh, não desanima. A caminhada não é fácil, mas foca na chegada! Obrigado pelo incentivo.

    Um abraço a todos.

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  2. ALEH MENDES

    Saudações Walter; gostaria apenas de deixar registrado o agradecimento de alguém que a pouco acompanha seu conteúdo na web, e que entre um artigo e outro, tem encontrado força e incentivo para caminhar nas “GRIDS” da vida. Sou Designer, ainda engatinhando como freela, batendo de frente com a depressão, por dias melhores que sei, ainda virão. Enfim, esse é o outro lado da moeda; parabéns pelo trabalho, e sucesso em sua próxima palestra; God bless you man!

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  3. LucasSB

    Cara… esse post esta show, tenho um blog e também tenho medo dos trolls, mas na vida temos que arriscar^^.
    Mas cara… esse post esta muito bala, também discordo da questão de fechar o espaço de comentários, não é legal, pq não é todos que vão trollar e sim muitas pessoas vão se identificar com o conteúdo e acompanhar o blog, a internet é um espaço de opinião, não tem como evitar, o que devemos fazer é como tu disse, olhar e olhar o que vem de positivo, show este post Walter o/

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  4. Bruno Gama

    Texto excelente. Foi muito importante para mim pois estou para iniciar um projeto que com certeza haverá uma quantidade razoável de trolls pra tentar me desestabilizar.

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  5. Isis

    Oi, Walter! =)

    Primeiro, obrigada por traduzir esse texto, acho que pode ajudar muita gente a decidir pela ação ao em vez de se deixar paralisar pelo medo.

    Não sei se você conhece uma palestra da pesquisadora Brené Brown falando sobre “vulnerabilidade” no TED. Ela ficou muito famosa por causa dessa palestra e, ha algum tempo atras, foi ao 99u (um site para designers) falar um pouco das reações das pessoas (em especial os haters) sobre seu video.

    Ela cita esse trecho que fala da arena. Eu não vou contar o que ela fala, mas vale muito a pena ver as duas palestras. Elas resumem o que eu procuro seguir hoje em dia,e é por isso que opiniões como a sua tem tanto peso pra mim.

    Obrigada pelo bom trabalho, torço muito por você! =)

    Brené Brown, Vulnerabilidade TED:
    https://www.ted.com/talks/brene_brown_on_vulnerability

    Brené Brown, 99u
    Porque seus criticos não são quem mais importa:
    http://99u.com/videos/20052/brene-brown-stop-focusing-on-your-critics

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  6. Héverton Bortolotti

    Tenho uma visão relativamente simples sobre isso. Uma crítica deve ser levada em conta se a pessoa que a apresentar lhe mostrar uma solução melhor para o problema que você está solucionando. Ou seja, críticas sempre irão existir, o problema é você saber levar em conta as construtivas e descartar as pejorativas. O problema é quando ocorre uma crítica à um trabalho que não agrega em nada, apenas ofende, pois estamos aqui para crescer e às vezes precisamos de um puxão de orelha, mas com respeito.

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    • Bruno Lollato

      Não tive como ler todo o artigo ainda Walter, mas de qualquer maneira por ser um assunto muito frequente nos dias de hoje é mais fácil dar uma opinião.

      Acredito que “trolls” sempre existirão, e como nosso amigo Héverton disse, existe comentários que apesar de criticarem ajudam a melhorar, ou até mesmo a chegar a uma solução melhor, o grande problema são pessoas que vivem apenas para falar mal do trabalho da pessoa alheia, ou pior, passam a vida falando mal de tudo que vêem, no fundo acredito que essas pessoas não conseguem se encaixar em nada que as façam felizes, e muito menos conseguem ser melhores que aqueles que estão a criticar e por este motivo acabam por falar mal, quem sabe destruindo aquilo que você não consegue fazer fique mais fácil lidar consigo próprio.

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